A SÍNDROME DA
COUVADE, UM CASO
Para a Dra. Manuela
Boyadjian
Nos idos dos anos 80 do século passado assumia a direção do
Hospital Geral do Exército de Fortaleza, o coronel Wilson da Silva Bóia (1927–2005),
médico, intelectual, músico, memorialista, boêmio nascido no Rio de Janeiro e
que pertenceu a várias arcádias. Uma grande figura humana que lapidou um
agradável ambiente de trabalho transformando o dito hospital numa verdadeira
casa de amigos.
Certa feita um casal
buscou orientação no ambulatório de ginecologia e obstetrícia do Hospital do
Exército: ele com 45 anos e ela com 42 anos de idade, casados há 20 anos e sem
filhos. A montanha de exames apresentados, junto a uma minuciosa anamnese
desenharam um quadro de esterilidade conjugal da parelha. Um jovem esculápio
emitiu a prescrição simplória de um indutor de ovulação. Dois meses depois o
maduro casal retorna ao ambulatório com um ultrassom evidenciando gravidez.
Surpresa: gravidez de gêmeos.
A gestante mostrava severo quadro de náuseas, vômitos e
astenia. Nova surpresa: o marido também estava acometido de vômitos
incoercíveis do mesmo padrão da esposa. O obstetra afoito e sem pestanejar parabenizou
o “ casal grávido “ mas fez uma ressalva: o cônjuge abrira um quadro patológico
raro e bizarro, uma Síndrome da Couvade.
“ – O que? covarde, eu, um cabra da peste nascido nas
brenhas da Serra Talhada. Me respeite, seu fedelho de uma figa “.
“ - Não, sargento, eu falei Couvade, e não, covarde “
“ – Vamos embora, mulher, que este doutorzinho não diz coisa
com coisa “.
Teve assim um fim prematuro a assistência pré-natal ao casal
grávido sobre a responsabilidade daquele esculápio. Um grupo de profissionais
do Rio de Janeiro naquela época já defendia o pré-natal psicológico: Maria
Tereza P. Maldonado (psicóloga), Jean Claude Nahoun (médico) e Paulo Belfort (médico)
todos atuando em conjunto tratando corpos e mentes num momento de crise.
Um belo dia retorna o tal sargento, sem a esposa, solicitando
uma licença de maternidade no nome dele. O obstetra elaborou uma licença de
cinco dias e entregou ao portador. Ele, incontinenti, rasgou o documento recém
elaborado, solicitando um outro de cento e vinte dias, conforme mandava a
legislação.
“ - Quem pariu, suportando todas as dores fui eu. Quero o que tenho direito, ou o senhor se responsabiliza pela quebra do meu resguardo?
Foi, a contragosto, refeito o atestado pois a Síndrome da
Couvade, pelo visto, ainda se apresentava firme.
Denomina-se Síndrome da Couvade um distúrbio psicossomático
onde, simbolicamente, o pai assume na gravidez, no parto e no puerpério o lugar
da companheira grávida (Trethowan,1965). Para Perseval (1981) o ritual da
Couvade seria um processo de identificação do homem com o bebê e a crença na
existência de um elo muito forte entre pai e filho ( Maldonado , T. ;
Psicologia da Gravidez ,9° Edição ,1988 .
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