Carnaval 2020
Na intimidade do bicho - homem residem a música, a dança e a inebriante picardia de um palhaço.
Um noctívago que dobrado em si, vagueia solitário na chuva; um pássaro que risca o azul do firmamento; uma folha que a balouçar cai nos braços da terra; tudo emana graça e uma poesia de Chaplin.
Seja bem vindo, o rosto pintado do nobre palhaço, a nos mostrar que o riso e a lágrima, irmãos gêmeos, fazem companhia a todos neste fugaz périplo carnavalesco.
"Heróis da gargalhada, ó nobres saltimbancos/eu gosto de vocês, /porque amo as expansões dos grandes risos francos/e os gestos de entremez/e prezo, sobretudo, as grandes ironias/das farsas joviais/ que em viagens cruéis, imperturbáveis, frias/ à turba arremessada!/alegres histriões dos circos e das praças, /ah, sim, gosto de vos ver/ nas grandes contorções, a rir, a dizer graças/ de o povo enlouquecer,/ ungidos pela luta heróica, descambada, / de giz e de carmim,/nas músicas sem par, heróis da bofetada,/ titãs do trampolim!/ correi, subi, vai num turbilhão fantástico/ por entre as saudações/da turba que festeja o semideus elástico /nas grandes ascensões, /e no curso veloz, vertiginoso, aéreo, /fazei por disparar/na face trivial do mundo egoísta e sério,/a gargalhada alvar !/depois, mais perto ainda, voltar no espaço, /pregai-lhe, se podeis,/Um pontapé furtivo,ó lívido palhaços, /luzentes como reis!/
Eu rio sempre, ao ver aquela majestade,/os trágicos desdéns/com que vos divertis, cobertos de alvaiade, /a troco de uns vinténs !/ mas rio ainda mais dos histriões burgueses/cobertos de ouropéis, /que tornam neste mundo, em longos entremezes, /a sério os seus papéis. /são eles, almas vãs , consciências rebocadas,/que enfim merecem mais/o comentário atroz das rijas gargalhadas/que às vezes disparais!/portanto, é rir, é rir, hirsutos , grandes, lestos,/nas cômicas funções, /até morrer, em desmanchados gestos,/de riso às multidões !/e eu, que amo as expansões dos grandes risos francos/ e os gestos de entremez, /deixai - me dizer isto, ó nobres saltimbancos: EU GOSTO DE VOCÊS !"
Os Palhaços, da autoria do poeta português Guilherme de Azevedo (1839 - 1882 )
Ontem na rua Domingos Olimpio, assistindo um bom carnaval , inocente e puro. Longe , bem longe da Sapucaí com mambembes "sambas do crioulo doido" lembrando o grande Stanislaw Ponte Preta. Minha saudação aos verdadeiros palhaços!
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