sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Balzaquiana , Carnaval de 1968
Ao poeta e boêmio Dr. Francisco Pessoa.


A mimosa Praça do Ferreira, regurgitava de gente, naquela noite chuvosa de fevereiro de 1968 , para viver um pré - carnaval com um desfile dos maracatus Ás de Ouro, Ás de Espada , e Leão Coroado.
Um jovem quase imberbe , fizera a trilha a pé desde a sua residência na rua Domingos Olímpio até o centro da cidade para curtir o rodopio de derviches daquelas negras baianas com seus vestidos rendados, carregando um cesto de frutas à cabeça e exibindo um sorriso Colgate nos cheios lábios escarlates.
Quando o rapaz deu por si, um fofo braço já envolvia amorosamente sua cintura. Era uma dama madura , uma moldura balzaquiana, de olhar faiscante , como o negrume da noite, com uns seios pétreos a lhe cutucar as entranhas. O mancebo em apreço, que há pouco largara a pele da infância , apreciou aquele amplexo morno e quieto. Nenhuma palavra fora trocada entre ambos. Aquela flecha do Cupido surgida do nada carimbara o pescoço do jovem com um cheiro pra lá de gostoso provocando labaredas nas entranhas do mesmo.
"Não quero broto/não quero, não quero, não/não sou garoto para viver só de ilusão/sete dias na semana/eu preciso ver minha balzaquiana/o francês sabe escolher/ por isso ele não quer qualquer mulher/papai Balzac já dizia/Paris inteiro respondia/Balzac acertou na pinta/ mulher só depois dos trinta "
Composição musical Balzaquiana, da autoria de Nássara e Wilson Batista.
Até aquela altura do campeonato, o inocente jovem jogara bola em peladas preliminares nas incertezas do amor.
"- E aí, bonitão, com esta pinta de rabo de burro, você faz o que na vida ? Perguntou a novel parceira.
"Estou iniciando um longo curso para aprender a pastorear almas com problemas de saúde , por este mundo afora", respondeu o assustado estudante.
"Pois eu sou uma viúva de marido vivo, perdida num túnel escuro e frio, desamparada nas artimanhas do amor "
Outros encontros furtivos aconteceram entre os dois pombinhos, até que um dia aquela agradável mestre , sumiu engolida pelo breu da noite. O aprendiz de pastor passou por maus bocados em noites insones , inquieto, com febre interna, quase um alucinado naquela enorme carência afetiva.
Certa feita, passando na frente da casa da balzaquiana , o doente de amor em pauta , viu uma placa indicando " aluga - se este imóvel ". Uma vizinha que varria a calçada, falou para o moço, que blefando alegara interesse naquele negócio.
Soube então que a inquilina partira, de súbito, às caladas da noite , carregada à força pelo marido, que fugira da cadeia pública onde cumpria pena por ter degolado um amante daquela balzaquiana.
Dizem que o casal partira para a Amazônia em busca de paz e de ouro.
O jovem saiu de fininho, alisando suavemente o pescoço, prometendo jogar flechas de Cupido em alvos mais maneiros, para juntos beberem o néctar da vida, a simples partilha do amor, despetalando rosas, de preferência com poucos espinhos !
"De tanto levar fechada do teu olhar/meu peito, agora/parece sabe o que ?/ tábua de tiro ao alvo/não tem mais onde furar/teu olhar mata mais/que bala de carabina/que veneno estricnina/que peixeira de baiano/teu olhar mata mais que atropelamento de automóvel/mata mais que bala de revólver "
Composição musical da autoria de Adoniran Barbosa.

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