A PESTE
Acredita-se
que o homem não deve olhar de frente nem para a morte nem para o sol. Convém,
contudo, ter em mente, sempre, a nua verdade contida num dos livros
sapienciais, como o Eclesiastes: “ Há um tempo de nascer e um tempo de morrer”.
Ao longo da
história da humanidade vários males pontuaram como verdadeiras tragédias
trazendo consigo uma elevada mortandade. É o caso da peste, também conhecida
como peste negra, peste bubônica ou peste pneumônica, uma séria moléstia causada
pela bactéria Yersinia pestis, transmitida pela picada da pulga de roedores
(Rattus rattus).
A peste
bubônica é a forma mais comum da doença (90% dos casos). Os sintomas aparecem em
cerca de 2 a 6 dias após a picada de uma pulga, com um quadro de febre elevada,
dor de cabeça e diminuição do apetite. Em seguida os gânglios linfáticos
aparecem intumescidos e dolorosos (bubões) podendo progredir a um abscesso. Outras
formas, ditas septicêmica e pneumônica são menos frequentes. O diagnóstico pode
ser feito através de exame de sangue, escarro ou proveniente de material
extraído do bubão. No tratamento farmacológico utilizam-se antibióticos
convencionais como estreptomicina, gentamicina, tetraciclina ou doxiciclina. A
taxa de sucesso gira em torno de 90%.
Nos dias
hodiernos esta doença faz-se pouco comum e a mortalidade em indivíduos afetados
pela peste é extremamente baixa por conta da eficácia dos antibióticos empregados,
dentre outros fatores.
Faz pouco, a
Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa) emitiu um alerta para notificação
imediata em caso de peste bubônica, contemplando cerca de 42 municípios, dentre
os 184 que compõem a rede estadual. O último caso registrado de peste no Ceará
deu-se no ano de 2005, na cidade de Pedra Branca. As áreas que merecem uma maior
vigilância são: Chapada do Araripe, Serra de Baturité, Serra do Macaco,
Uruburetama, Pedra Branca, e Ibiapaba.
Pelo menos
três grandes pandemias de peste bubônica assolaram a humanidade:
Primeira Pandemia ou Peste de Justiniano:
ocorrida em torno dos anos de 541 a 543, durante o reinado de Justiniano I (527-
565) aparecida na Ásia e estendida ao Mediterrâneo. Não se sabe ao certo o
número real de vítimas desta catástrofe, conquanto alguns estimem em cerca de
25.000.000 de pessoas.
Segunda Pandemia ou Peste Negra: teve origem
na China e chegou à Europa através de portos da Espanha, França e Itália entre
os anos de 1347 e 1348. Em certas localidades chegou a dizimar cerca de 75% da
população. Estima-se que entre 25 e 75 milhões de pessoas tenham sido mortas
pela peste nessa ocasião, o que representa algo como 1/3 de toda a população da
época.
Giovanni Boccaccio deixou registrado através
de uma magistral obra denominada Decameron (do grego antigo, deca=dez, e,
hemeron= dias ou jornada) uma história de 100 contos envolvendo sete mulheres e
três homens que se abrigam em uma vila isolada de Florença , impingindo fuga da
peste negra que afligia a cidade. Segundo uma tradição simbólica, as sete moças
representam as Quatro Virtudes Cardinais (Justiça, Prudência, Fortaleza e
Temperança) e as Três Virtudes Teologais (Fé, Esperança e Caridade). Os três
homens representam a Divisão da Alma em Partes (Ira, Razão e Luxúria).
Terceira
Pandemia: Teve origem na China, em Yunnan, em 1891, onde em poucos meses,
causou 180.000 mortes em Cantão e Hong Kong. Nesta ocasião o cientista
Alexandre Yersin descobriu o bacilo causador da peste, denominado Yersinia
pestis, em sua homenagem. O tratamento, contudo, só viria a acontecer com a
utilização de antibióticos por volta da segunda metade do século XX.
O escritor e
filósofo existencialista argelino Albert Camus (1913- 1960) escreveu em 1947 um
livro A Peste que conta a história de trabalhadores que descobrem a
solidariedade em meio a um surto de peste bubônica ocorrida na cidade de Oran
na Argélia.
“ No Ceará,
as populações, historicamente, sempre foram submetidas a condições sociais
extremamente precárias. O homem, nesta situação, fica submetido, sem proteção
alguma, a elementos adversos, sem as mínimas condições de defesa. Prova disso
são as grandes tragédias que tornam a história do Ceará marcada por repetidas
situações de seca- fome- miséria- epidemia – sofrimento - e dor” (José
Policarpo Barbosa, História da Saúde Pública do Ceará, 1994).
Na história
de doenças que visitaram, vez por outra, o sofrido chão cearense, desde o
período colonial, constam os males seguintes: varíola, sarampo, malária,
sífilis, hanseníase, tuberculose, disenteria, tifo, cólera e peste bubônica.
Tomara que a peste bubônica citada neste alerta da Secretaria de Saúde do
Estado do Ceará, passe ao largo poupando vidas, evitando agravos à saúde da
população e entrando no rol das mazelas, definitivamente, extintas de nossos
arraiais.
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