quinta-feira, 15 de junho de 2017

                                                                 A PESTE





Acredita-se que o homem não deve olhar de frente nem para a morte nem para o sol. Convém, contudo, ter em mente, sempre, a nua verdade contida num dos livros sapienciais, como o Eclesiastes: “ Há um tempo de nascer e um tempo de morrer”.

Ao longo da história da humanidade vários males pontuaram como verdadeiras tragédias trazendo consigo uma elevada mortandade. É o caso da peste, também conhecida como peste negra, peste bubônica ou peste pneumônica, uma séria moléstia causada pela bactéria Yersinia pestis, transmitida pela picada da pulga de roedores (Rattus rattus).

A peste bubônica é a forma mais comum da doença (90% dos casos). Os sintomas aparecem em cerca de 2 a 6 dias após a picada de uma pulga, com um quadro de febre elevada, dor de cabeça e diminuição do apetite. Em seguida os gânglios linfáticos aparecem intumescidos e dolorosos (bubões) podendo progredir a um abscesso. Outras formas, ditas septicêmica e pneumônica são menos frequentes. O diagnóstico pode ser feito através de exame de sangue, escarro ou proveniente de material extraído do bubão. No tratamento farmacológico utilizam-se antibióticos convencionais como estreptomicina, gentamicina, tetraciclina ou doxiciclina. A taxa de sucesso gira em torno de 90%.

Nos dias hodiernos esta doença faz-se pouco comum e a mortalidade em indivíduos afetados pela peste é extremamente baixa por conta da eficácia dos antibióticos empregados, dentre outros fatores.

Faz pouco, a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa) emitiu um alerta para notificação imediata em caso de peste bubônica, contemplando cerca de 42 municípios, dentre os 184 que compõem a rede estadual. O último caso registrado de peste no Ceará deu-se no ano de 2005, na cidade de Pedra Branca. As áreas que merecem uma maior vigilância são: Chapada do Araripe, Serra de Baturité, Serra do Macaco, Uruburetama, Pedra Branca, e Ibiapaba.

Pelo menos três grandes pandemias de peste bubônica assolaram a humanidade:
 Primeira Pandemia ou Peste de Justiniano: ocorrida em torno dos anos de 541 a 543, durante o reinado de Justiniano I (527- 565) aparecida na Ásia e estendida ao Mediterrâneo. Não se sabe ao certo o número real de vítimas desta catástrofe, conquanto alguns estimem em cerca de 25.000.000 de pessoas.
 Segunda Pandemia ou Peste Negra: teve origem na China e chegou à Europa através de portos da Espanha, França e Itália entre os anos de 1347 e 1348. Em certas localidades chegou a dizimar cerca de 75% da população. Estima-se que entre 25 e 75 milhões de pessoas tenham sido mortas pela peste nessa ocasião, o que representa algo como 1/3 de toda a população da época.

 Giovanni Boccaccio deixou registrado através de uma magistral obra denominada Decameron (do grego antigo, deca=dez, e, hemeron= dias ou jornada) uma história de 100 contos envolvendo sete mulheres e três homens que se abrigam em uma vila isolada de Florença , impingindo fuga da peste negra que afligia a cidade. Segundo uma tradição simbólica, as sete moças representam as Quatro Virtudes Cardinais (Justiça, Prudência, Fortaleza e Temperança) e as Três Virtudes Teologais (Fé, Esperança e Caridade). Os três homens representam a Divisão da Alma em Partes (Ira, Razão e Luxúria).

Terceira Pandemia: Teve origem na China, em Yunnan, em 1891, onde em poucos meses, causou 180.000 mortes em Cantão e Hong Kong. Nesta ocasião o cientista Alexandre Yersin descobriu o bacilo causador da peste, denominado Yersinia pestis, em sua homenagem. O tratamento, contudo, só viria a acontecer com a utilização de antibióticos por volta da segunda metade do século XX.

O escritor e filósofo existencialista argelino Albert Camus (1913- 1960) escreveu em 1947 um livro A Peste que conta a história de trabalhadores que descobrem a solidariedade em meio a um surto de peste bubônica ocorrida na cidade de Oran na Argélia.

“ No Ceará, as populações, historicamente, sempre foram submetidas a condições sociais extremamente precárias. O homem, nesta situação, fica submetido, sem proteção alguma, a elementos adversos, sem as mínimas condições de defesa. Prova disso são as grandes tragédias que tornam a história do Ceará marcada por repetidas situações de seca- fome- miséria- epidemia – sofrimento - e dor” (José Policarpo Barbosa, História da Saúde Pública do Ceará, 1994).

Na história de doenças que visitaram, vez por outra, o sofrido chão cearense, desde o período colonial, constam os males seguintes: varíola, sarampo, malária, sífilis, hanseníase, tuberculose, disenteria, tifo, cólera e peste bubônica. Tomara que a peste bubônica citada neste alerta da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, passe ao largo poupando vidas, evitando agravos à saúde da população e entrando no rol das mazelas, definitivamente, extintas de nossos arraiais.







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