François Mauriceau (1637-1709) nasceu em Paris e tomou um
lugar de realce entre os grandes mestres da obstetrícia na Europa do século
XVII. Mauriceau era um cirurgião e obstetra que formou sua base de conhecimentos médicos
no notório Hôtel- Dieu de Paris. Prestou
assistência a milhares de partos, incluindo o de membros da real corte francesa.
Publicou no ano de 1668 o célebre
“ Traité des Maladies des Femmes Grosses et Accouchées
“ que foi traduzido em diversos idiomas , como o holandês , inglês , alemão e italiano . Foi
pioneiro no estudo da conformação da bacia feminina, mostrando que o parto em
mulher de bacia ampla, transcorria de modo fácil e sem afastamento dos ossos
pélvicos. Condenou com veemência tanto a versão interna como a operação
cesariana, considerando esta uma
cirurgia marcada pela fatalidade , invariavelmente .
Apenas admitia a
cesárea post- mortem. Um outro grande
obstetra da mesma época, Burton , não comungava com tal procedimento de
Mauriceau e verberava: “ Negar-se a
salvar a uma pessoa quando está em seu poder fazê-lo é facilitar a morte,e
neste caso a morte de duas pessoas é
imperdoável “
Mauriceau elaborou uma manobra para facilitar a expulsão da cabeça do feto num parto de
nádegas , conhecido como “parto das complicações crescentes “ e que até hoje
tem sua serventia : o parteiro coloca as extremidades dos dedos indicador e
médio a nível dos malares do feto
forçando deste modo sua expulsão pelo canal do parto .
Em contrário à posição de seus predecessores considerava os
lóquios ( líquido sanguíneo e seroso) no puerpério como uma secreção análoga à
supuração de uma ferida.
Mauriceau tornou-se um estudioso numa patologia
hemorrágica da gestação, a placenta prévia, que carreava um elevado índice de
mortalidade materna e fetal por desatada sangria. O destino colocou no caminho
de Mauriceau a assistência ao parto de sua irmã, com um severo quadro de
hemorragia genital e que findou com o
óbito da infeliz parturiente em
consequência de anemia aguda . Mesmo nos dias hodiernos tal patologia continua
ceifando vidas ao redor do mundo.
Em 1670 em Paris, François Mauriceau protagonizou um infeliz
episódio com um obstetra inglês, Hugh Chamberlen , que à época detinha o exclusivo uso do fórceps . Com astúcia,
Mauriceau ofereceu como prova para comprar por 10.000 libras o segredo de tal
instrumento, uma parturiente portadora de grave anomalia de bacia e que estava em
transe de parto há três dias. A despeito de tentar aplicar várias vezes o
fórceps, o epílogo deu-se com a morte da paciente e do seu concepto .
Deste modo a
transação não foi efetivada. Mauriceau exultou do insucesso e em forma de
chacota pregava aos quatro ventos que “Chamberlen se havia equivocado em julgar
encontrar tanta facilidade para partejar as mulheres as mulheres em Paris como
havia encontrado em Londres “ .
François Mauriceau morreu no dia 17 de outubro de 1709.
A despeito de tudo, o fórceps firmou-se como um instrumento
que representa um prolongamento das mãos do parteiro e até os dias atuais ajuda
na resolução de partos difíceis que exigem perícia em seu epílogo, com
evidentes benefícios para o binômio materno e fetal.
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