sexta-feira, 4 de novembro de 2016

          FRANÇOIS MAURICEAU E A ARTE DO PARTO


François Mauriceau (1637-1709) nasceu em Paris e tomou um lugar de realce entre os grandes mestres da obstetrícia na Europa do século XVII. Mauriceau era um cirurgião e obstetra  que formou sua base de conhecimentos médicos no notório  Hôtel- Dieu de Paris. Prestou assistência a milhares de partos, incluindo o de membros da real corte francesa. Publicou  no ano de 1668 o célebre  

“ Traité des Maladies des Femmes Grosses et Accouchées “ que foi traduzido em diversos idiomas , como o  holandês , inglês , alemão e italiano . Foi pioneiro no estudo da conformação da bacia feminina, mostrando que o parto em mulher de bacia ampla, transcorria de modo fácil e sem afastamento dos ossos pélvicos. Condenou com veemência tanto a versão interna como a operação cesariana, considerando esta uma  cirurgia marcada pela fatalidade , invariavelmente . 

Apenas admitia a cesárea post- mortem.  Um outro grande obstetra da mesma época, Burton , não comungava com tal procedimento de Mauriceau  e verberava: “ Negar-se a salvar a uma pessoa quando está em seu poder fazê-lo é facilitar a morte,e neste caso  a morte de duas pessoas é imperdoável “

Mauriceau elaborou uma manobra para facilitar a  expulsão da cabeça do feto num parto de nádegas , conhecido como “parto das complicações crescentes “ e que até hoje tem sua serventia : o parteiro coloca as extremidades dos dedos indicador e médio  a nível dos malares do feto forçando deste modo sua expulsão pelo canal do parto .

Em contrário à posição de seus predecessores considerava os lóquios ( líquido sanguíneo e seroso) no puerpério como uma secreção análoga à supuração de uma ferida. 

Mauriceau tornou-se um estudioso numa patologia hemorrágica da gestação, a placenta prévia, que carreava um elevado índice de mortalidade materna e fetal por desatada sangria. O destino colocou no caminho de Mauriceau a assistência ao parto de sua irmã, com um severo quadro de hemorragia genital  e que findou com o óbito da  infeliz parturiente em consequência de anemia aguda . Mesmo nos dias hodiernos tal patologia continua ceifando vidas ao redor do mundo.

Em 1670 em Paris, François Mauriceau protagonizou um infeliz episódio com um obstetra inglês, Hugh Chamberlen , que à época  detinha o exclusivo uso do fórceps . Com astúcia, Mauriceau ofereceu como prova para comprar por 10.000 libras o segredo de tal instrumento, uma parturiente portadora de grave anomalia de bacia e que estava em transe de parto há três dias. A despeito de tentar aplicar várias vezes o fórceps, o epílogo deu-se com a morte da  paciente e do seu concepto . 

Deste modo a transação não foi efetivada. Mauriceau exultou do insucesso e em forma de chacota pregava aos quatro ventos que “Chamberlen se havia equivocado em julgar encontrar tanta facilidade para partejar as mulheres as mulheres em Paris como havia encontrado em Londres “ .

François Mauriceau morreu no dia 17 de outubro de 1709.
A despeito de tudo, o fórceps firmou-se como um instrumento que representa um prolongamento das mãos do parteiro e até os dias atuais ajuda na resolução de partos difíceis que exigem perícia em seu epílogo, com evidentes benefícios para o binômio materno e fetal.


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