DE NOVO O AMOR
Para Leila, com carinho
Meio século, quase uma vida e um amoroso reencontro. Como
testemunho solitário, o luar a aspergir no dorso sereno do mar uma miríade de
estrelas tremeluzentes.
E você, prenhe de ternura a me mostrar , cálida em voz baixa ,
repousando em meu peito cansado , a atemporalidade e a imensidão do poder do
amor.
“Eu quisera subir muito alto, Senhor ,
Acima de minha cidade,
Acima do mundo, acima do tempo,
Quisera purificar meu olhar e ver tudo com teus olhos.
Eu veria então o
Universo , a Humanidade , a História , como o Pai os vê
Eu veria nesta prodigiosa transformação da matéria,
Neste perpétuo borbulhar de vida,
Teu grande Corpo que nasce sob o sopro do Espírito,
Eu veria a bela, a eterna Ideia de Amor de teu Pai, que se
realiza progressivamente:
Tudo recapitular em ti as coisas do Céu e as da Terra.
E eu veria então que hoje como ontem, os mínimos elementos
participam deste plano:
Cada homem em seu lugar,
Cada grupo,
E cada objeto.
Eu veria esta fábrica e aquele cinema,
A discussão da convenção coletiva de trabalho e a colocação
do chafariz-da-beira-da-estrada,
Veria o preço do pão que se apregoa e a turma de moços que
vai ao baile,
O gurizinho que nasce e o velho que morre,
Veria o menor fragmento de matéria e a mínima palpitação da vida,
O amor e o ódio, o pecado e a graça.
Enlevado, eu compreenderia que aos meus olhos desenrola- se
A Grande Aventura do Amor começada na aurora do Mundo,
A História Sagrada,
que, segundo a promessa ,só na glória acabará,
Após a ressureição da
carne.
Quando te apresentares diante do Pai dizendo:
Está consumado, eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim.
Eu compreenderia que tudo está ligado,
Que tudo é um só e mesmo movimento de toda a humanidade e de
todo o universo
Rumo a Trindade, em ti e por ti, Senhor.
Eu compreenderia que nada é profundo entre as coisas, as
pessoas, os acontecimentos,
Mas que ao contrário, tudo é sagrado por Deus desde as
origens,
E tudo deve ser consagrado pelo homem divinizado.
Eu compreenderia minha vida, imperceptível respiração neste
Grande Corpo Total,
É um tesouro indispensável no projeto do Pai,
Então, caindo de joelhos, eu admiraria, Senhor, o mistério
deste Mundo
Que, apesar dos inúmeros e medonhos aleijões do pecado
É uma longa palpitação do amor, rumo ao Amor Eterno.
Quisera subir muito alto, Senhor,
Acima do Mundo,
Acima do tempo,
Quisera purificar meus olhos e ver tudo com teus olhos“
Deste modo, na varanda de minha pequena morada no Porto das
Dunas, colada em Fortaleza , sorvi, uma vez mais, as belas verdades de um rico
tesouro, o livro “Construir o Homem e o Mundo “ do padre francês Michel Quoist
(1921-1997)que alimentou meus sonhos juvenis nos anos 60 do século passado .
Revivi o mesmo êxtase, a mesma reverência pela beleza da vida!
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