O Burro Juiz
Disputava a gralha com o sabiá , afirmando que sua voz valia a dele . Como as outras aves rissem daquela pretensão, a barulhenta matraca de penas , furiosa , disse :
- Nada de brincadeiras. Isto é uma questão muito séria, que deve ser decidida por um juiz . Canta o sabiá, canto eu , e a sentença do julgador decidirá quem é o melhor artista . Topam ?
Estavam a debater este ponto, quando zurrou um empedernido burro.
- Nem de encomenda! exclamou a gralha . Está lá um juiz de primeiríssima para julgamento de música, pois nenhum animal possui maiores orelhas . Vamos convidá - lo.
Aceitou o burro o juizado e veio postar - se no centro da roda .
- Vamos lá, comecem ! ordenou ele .
O sabiá deu um pulinho, abriu o bico e cantou . Cantou como só cantam sabiás, garganteando os trinos mais melodiosos e límpidos. Uma pura maravilha, que deixou mergulhado em êxtase o auditório em peso.
- Agora , eu ! disse a gralha , dando um passo à frente. E abrindo a bicanca matraqueou uma grita de romper os ouvidos aos próprios surdos .
Terminada a justa , o meritíssimo juiz deu a sentença :
- Dou ganho de causa à excelentíssima senhora dona Gralha, porque canta muito mais forte que mestre sabiá.
QUEM BURRO NASCE , TOGADO OU NÃO, BURRO MORRE .
" O burro juiz " , da autoria de Monteiro Lobato ( 1882 - 1948 ) , advogado , promotor , escritor , ativista e tradutor brasileiro. Foi um dos precursores da literatura infantil no Brasil e de toda a América Latina .
" Morou Moraes, se não morou , não mora mais , mané ! "
Ponto Final.
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