A Borboleta e a Liberdade
" Há três dias ela vinha lutando inutilmente. Era um lindo exemplar de borboleta . Corpo curto e fino , asas grandes , antenas crespas e longas , olhos pulados , tintas fortes e bem distribuídas. Insinuou- se pelo meu quarto sem ser pressentida e lá ficou por muitas horas, obstinada em sair, inconformada na prisão.
Enquanto voejava de parede a parede , de um móvel para o teto ou vice-versa, não incomodou . Até enfeitou o ambiente.
Depois , quando acertou com os vidros da janela , passou a molestar . Não fez mais silêncio. Não parava de bater . Debatia - se . Forçava. Investia . Sem comer nem beber . Tudo pela liberdade! E esta a poucos milímetros . Ao fim de algum tempo, ou por importunado ou compadecido, dispus - me a fazer a vontade da leve e inocente detenta de meu quarto. Ainda lutava . E o rufar de suas asas tinha qualquer cousa de bélico, de toque de tambor , de disposição combativa até a morte.
Concedi - lhe a fuga pela janela . Ela saiu voando, como uma louca ou uma bêbada , em linha quebrada , aos ângulos obtusos , em itinerário de corisco , quase às cegas, mas subindo. Subindo. Subindo.
Nunca vi borboleta atingir tão alto !
A liberdade eleva o homem e as simples borboletas.
A pior das prisões ou o mais negro dos cativeiros é aquele em que se tem apenas a ilusão da liberdade ou a liberdade por um óculo.
Excertos da crônica " A Borboleta e a Liberdade " da autoria de João Jacques Ferreira Lopes ( 1910 - 1999 ) , um nobre jornalista, cronista , poeta e pintor , nascido em Fortaleza .
Hodiernamente , vetustas figuras tétricas querem , a todo custo , cercearem a liberdade aos cidadãos de Pindorama, impondo mordaças , prisões arbitrárias, ao arrepio das leis , e da Constituição Federal .
Julgando - se deuses , coitados , esses seres decrépitos , precisam entender que supremo é o Povo !
Liberdade , Liberdade, abre as asas sobre nós!
Nenhum comentário:
Postar um comentário