UMA ANTIGA FÁBULA DE HYBRIS
Num burgo
perdido nos confins do mundo, onde o cão perdeu as botas, sempre à espera de um
futuro incerto que nunca bate à porta, vivia um casal que abrigava um
insaciável desejo sem limites. Ele um idoso sisudo, com rosto pétreo, vertendo
uma linguagem empostada e monocórdica; e ela um mimoso bibelô, frágil e
elegante, exibindo uma exemplar e incômoda mudez. Em certa ocasião, uma
daquelas “lâmpadas mágicas das histórias das mil e uma noites orientais” cai
nos gentis braços da dita dama. O marido, já cioso dessas fábulas contadas no
país de seus ancestrais, logo tomou a dianteira.
Solicitou,
sem demora a providência de um palácio luxuoso numa área até então inabitada. E
assim foi feito. Salta do nada um luxuoso prédio com traços ultramodernos.
Não
satisfeitos, segue-se um novo pedido para a lâmpada maravilhosa, posto que, os
pombinhos queriam ser, simplesmente, rei e rainha, respectivamente.
Mas, como o
desejo não tinha limites, decorrido pouco tempo, surge um novo e estrambótico
desejo: o velho sisudo e manhoso, queria ser papa. Uma vez mais a lâmpada cedeu
à solicitação que tinha tudo para dar errado:
Seria um
papa franciscano de pés descalços, despojado, que conversava com os bichos,
porém, muito à esquerda e fiel defensor da libertação dos pobres do mundo.
Assim foi feito e, como era de se esperar, pouco durou a trajetória papal.
O idoso
inquieto e insaciável, queria, simplesmente, ser um deus, daqueles greco-romanos,
mesmo que preciso fosse acabar com toda a riqueza e decência existentes naquele
pobre burgo. Pedido, enfim, aceito.
A rainha-bibelô
voltou ao palácio para transmitir as alvissareiras notícias e, aturdida,
visualizou um triste e apocalíptico cenário:
O outrora
palácio transformado em uma choupana, mostrando um pobre idoso, maltrapilho, cabisbaixo,
algemado, sentado num tamborete grogue, tendo ao lado um tipo mau encarado, com
traços nipônicos, óculos escuros, protegendo a pobre presa.
Voltara a tudo
como dantes, à estaca zero, e segundo confidenciara o verdugo japonês, o
destino final seria rumo a um sinistro lugar denominado “ Inferno da Papuda”.
Que pesadelo
medonho, senhores!
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