SÍNDROME DE DIÓGENES / NOÉ
O mundo
assiste ao envelhecimento da população por conta da redução da taxa de
natalidade e pelo incremento da longevidade, resultantes dos progressos da
medicina moderna. A velhice, condição multidimensional varia de pessoa a
pessoa, de acordo com condições socioeconômicas, estilos de vida e presença de morbidades
crônicas, tais como, diabetes, obesidade, hipertensão arterial e câncer.
O acúmulo
compulsivo de objetos, muitos deles sem qualquer utilidade, denomina-se Síndrome
de Diógenes (objetos), ou Síndrome de Noé (animais), nos casos da criação
anárquica de animais, evidenciando desleixo e sinais de maus-tratos dos mesmos.
Tais alterações psicológicas mostram semelhança com aquelas observadas nos
Transtornos Obsessivo- Compulsivos (TOC) ou Transtornos da Acumulação
Compulsiva (TAC).
A Síndrome
de Diógenes caracteriza-se pela incapacidade do indivíduo para realizar cuidados
básicos de higiene pessoal; pela acumulação de objetos velhos sem qualquer
função; pelo isolamento social, evidenciando atitudes hostis e total
indiferença com o mundo em seu entorno. Para tal, exige-se um diagnóstico
diferencial com possíveis quadros de demência, psicose, depressão ou
esquizofrenia.
Esta
síndrome foi inicialmente descrita em 1966 por Mcmillan e Shaw, como Síndrome
de Esqualidez Senil, e, posteriormente, nomeada como Síndrome de Diógenes, em 1975,
por Clark e colaboradores.
Isto tudo nos
remete à Grécia Antiga, a um movimento – Cinismo - fundado pelo filósofo
Antístenes (444 - 365 a. C), nascido em Atenas e discípulo de Sócrates, que
procurava imitá-lo de forma exagerada através do culto da pobreza, o desprezo
pelos prazeres terrenos, pelas honrarias e pelas riquezas. Pregava-se, então, o
regresso à vida solitária e selvagem: nada de civilização, nada de sociedade,
nada de pátria. Refutava toda vida refinada. Por essa época surgiu um discípulo
de Antístenes, que em pouco tempo tornou-se o nome mais ilustre deste
movimento: Diógenes de Sinope (413 – 323 a. C) que resolveu viver à maneira de
um cão – Kyon -, daí o termo “ cínico”.
Outros defendem
que a palavra cínicos – kynikos- deriva de Kynosarges – cão ágil -, um ginásio
dedicado a Hércules e frequentado por Antístenes. O certo é que “ os cínicos”
viviam à maneira de cães soltos perambulando pelas ruas e indiferentes às
normas sociais estabelecidas. Diógenes vivia num tonel desprovido de outros
bens e com uma lâmpada acesa, de dia, “ procurava por um homem”. Era um viver
seguindo a natureza, livre de regras, bastando-se -a si- mesmo e não
necessitando de nada.
Acredita-se
que cerca de 4% da população mundial possa apresentar este transtorno de
acumulação compulsiva de objetos descartáveis e uma vigorosa incapacidade de
desfazer-se dos mesmos, tornando o ambiente em que vivem, perigosos e
insalubres. Deste modo, a Síndrome de Diógenes/ Noé, apresenta-se como um
complexo problema geriátrico que demanda decisões clínicas, sociais e éticas,
visando minimizar seus danos à saúde desses sofridos indivíduos.
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