RUBAIYAT DE OMAR KHAYYAM
“ Que a tua
sabedoria não seja uma humilhação para o teu próximo. Guarda domínio sobre ti mesmo e nunca te
abandones à cólera. Se aspiras à paz definitiva, sorri ao Destino que te fere;
não firas ninguém”. Procura ser feliz
ainda hoje, pois não sabes o que te reserva o dia de amanhã”.
“ Toma uma
urna cheia de vinho, senta-te ao clarão do luar e monologa: - Talvez amanhã a
lua me procure em vão”. Como é vil o
coração que, incapaz de amar, não pode conhecer o delírio da paixão!... Se não
amas, és indigno do sol que te ilumina, da lua que te consola”.
“Sinto que a
minha mocidade refloresce. Desejo aquele vinho que me dá calor e alegria... “ “
Quero vinho... Dizes que é amargo? Não importa. Tem o gosto da vida ”. “ Inútil
é que te aflijas: nada podes acerca do teu destino. Se és prudente, aproveita o
momento atual. O futuro? Sabes o que ele te reservará? ”.
“ Além da
Terra, além do Infinito, eu procurava em vão o Céu e o Inferno. Mas uma voz me
disse: O Céu e o Inferno estão em ti mesmo”.
“
Deixemo-nos de palavras vãs. Levanta-te e dá-me um pouco de vinho. Esta noite
tua boca é a mais bela rosa do mundo e basta para todos os meus desejos. Dá-me
vinho. Que ele seja corado como suas faces, e o meu remorso será leve como as
tuas tranças”.
“ Os dias
passam rápidos como as águas do rio ou o vento do deserto. Dois há, em
particular, que me são indiferentes: o que passou ontem, o que virá amanhã”.
“ Quando
nasci? Quando morrerei? Nenhum homem pode evocar o dia de seu nascimento ou
prever o de sua morte. Vem, ó minha deliciosa amada! Quero esquecer na
embriaguez, a nossa incurável ignorância”.
“ O imenso
mundo: um grão de areia perdido no espaço. Toda a ciência dos homens: palavras.
Os povos, os animais e as flores dos sete climas: sombras. O resultado de tua
meditação: nada”.
“Eu
cambaleava de sono, e a Sabedoria me disse: - Nunca, no sono, a rosa da
felicidade floriu para ninguém. Por que te abandonares a esse irmão da morte?
Bebe vinho! Tens muitos séculos para dormir! ”
“ Ninguém
desvendará o que é misterioso. Ninguém poderá ver o que se oculta debaixo das
aparências. Todas as nossas moradas são provisórias, salvo a última, no coração
da terra. Bebe o vinho amigo! Basta de palavras supérfluas”.
“
Convence-te bem do seguinte: Um dia rua alma abandonará o teu corpo e serás
arrastado para trás do véu que flutua entre o universo e o incognoscível.
Enquanto esperas, cuida de ser feliz! Não sabes de onde vens. Nem sabe para
onde vais”
“ Os sábios
e os filósofos mais ilustres caminharam nas trevas da ignorância. E eram os
luzeiros do seu tempo!... Em suma, que fizeram eles? Pronunciaram algumas
frases confusas e adormeceram fatigados”.
“ Sono sobre
a terra. Sono debaixo da terra. Sobre a terra, debaixo da terra, homens
deitados. O nada em toda parte. Deserto do nada. Homens chegam. Outros partem”.
“ O bem e o mal
disputam a primazia neste mundo. O Céu não é responsável pela felicidade ou
desventura que o destino nos reserva. Não agradeças, pois, ao Céu, não o acuses
também. Ele é indiferente à tuas alegrias, indiferente aos teus pesares”.
“ Quando eu
não viver mais, não haverá rosas, nem ciprestes, nem lábios vermelhos, nem
vinhos perfumados. Não haverá mais auroras, nem crepúsculos, nem alegrias, nem
penas. O universo não existirá mais, pois tudo existe em função do meu
pensamento”.
“ Lâmpadas
que se apagam, esperanças que se acendem: Aurora. Lâmpadas que se acendem,
esperanças que se apagam: Noite”.
Omar Khayyam
(1040-1120), poeta, astrônomo e matemático nasceu na Pérsia. Khayyam, em persa
significa, fabricante de tendas, uma atividade exercida pelo pai do poeta.
Rubaiyat, plural da palavra persa rubai, que significa quartetos ou quadras.
Tal obra recebeu a tradução de grandes literatos como Fitzgerald, Toussaint, M.
Bandeira e J. L. Borges. Octávio Tarquínio de Sousa realizou um excelente
trabalho de tradução, lançado pela Livraria José Olímpio Editora, onde
desabrocha todo o imediatismo e pessimismo do poeta persa, diante do mistério
do universo, mostrando que a filosofia e a ciência não vão além das aparências.
Na vida, nada de largas esperanças nem de grandes ilusões. O breve momento do
hoje pode dar uma ilusão de eternidade. Uma apologia ao Carpe Diem. Omar,
utiliza em Rubaiyat, mensagens oriundas do Corão, mas, facilmente, cotejadas,
nalguns pontos, com as verdades emanadas no livro sagrado do Eclesiastes, onde
“ Tudo é ilusão”: “ O homem é uma sombra, a vida uma bolha de espuma, os rios
correm ao mar, e as águas do mar sobem às nuvens, e as nuvens alimentam as
fontes, geram os rios, e os rios correm ao mar, e as águas, etc., etc... E a
conclusão do Eclesiastes: “Tema a Deus e obedeça aos seus mandamentos porque
foi para isso que fomos criados. Nós teremos de prestar contas a Deus de tudo o
que fizemos e até daquilo que fizemos em segredo, seja o bem ou o mal”
(12.13-14).
Excertos de
Rubaiyat de Omar Khayyam, versão portuguesa de Octávio Tarquínio de Sousa;
Livraria José Olímpio Editora, décima-terceira edição, 1967.
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