sexta-feira, 6 de outubro de 2017

RUBAIYAT DE OMAR KHAYYAM




“ Que a tua sabedoria não seja uma humilhação para o teu próximo.  Guarda domínio sobre ti mesmo e nunca te abandones à cólera. Se aspiras à paz definitiva, sorri ao Destino que te fere; não firas ninguém”.  Procura ser feliz ainda hoje, pois não sabes o que te reserva o dia de amanhã”.

“ Toma uma urna cheia de vinho, senta-te ao clarão do luar e monologa: - Talvez amanhã a lua me procure em vão”.  Como é vil o coração que, incapaz de amar, não pode conhecer o delírio da paixão!... Se não amas, és indigno do sol que te ilumina, da lua que te consola”.

“Sinto que a minha mocidade refloresce. Desejo aquele vinho que me dá calor e alegria... “ “ Quero vinho... Dizes que é amargo? Não importa. Tem o gosto da vida ”. “ Inútil é que te aflijas: nada podes acerca do teu destino. Se és prudente, aproveita o momento atual. O futuro? Sabes o que ele te reservará? ”.

“ Além da Terra, além do Infinito, eu procurava em vão o Céu e o Inferno. Mas uma voz me disse: O Céu e o Inferno estão em ti mesmo”.

“ Deixemo-nos de palavras vãs. Levanta-te e dá-me um pouco de vinho. Esta noite tua boca é a mais bela rosa do mundo e basta para todos os meus desejos. Dá-me vinho. Que ele seja corado como suas faces, e o meu remorso será leve como as tuas tranças”.

“ Os dias passam rápidos como as águas do rio ou o vento do deserto. Dois há, em particular, que me são indiferentes: o que passou ontem, o que virá amanhã”.

“ Quando nasci? Quando morrerei? Nenhum homem pode evocar o dia de seu nascimento ou prever o de sua morte. Vem, ó minha deliciosa amada! Quero esquecer na embriaguez, a nossa incurável ignorância”.

“ O imenso mundo: um grão de areia perdido no espaço. Toda a ciência dos homens: palavras. Os povos, os animais e as flores dos sete climas: sombras. O resultado de tua meditação: nada”.
“Eu cambaleava de sono, e a Sabedoria me disse: - Nunca, no sono, a rosa da felicidade floriu para ninguém. Por que te abandonares a esse irmão da morte? Bebe vinho! Tens muitos séculos para dormir! ”

“ Ninguém desvendará o que é misterioso. Ninguém poderá ver o que se oculta debaixo das aparências. Todas as nossas moradas são provisórias, salvo a última, no coração da terra. Bebe o vinho amigo! Basta de palavras supérfluas”.

“ Convence-te bem do seguinte: Um dia rua alma abandonará o teu corpo e serás arrastado para trás do véu que flutua entre o universo e o incognoscível. Enquanto esperas, cuida de ser feliz! Não sabes de onde vens. Nem sabe para onde vais”

“ Os sábios e os filósofos mais ilustres caminharam nas trevas da ignorância. E eram os luzeiros do seu tempo!... Em suma, que fizeram eles? Pronunciaram algumas frases confusas e adormeceram fatigados”.

“ Sono sobre a terra. Sono debaixo da terra. Sobre a terra, debaixo da terra, homens deitados. O nada em toda parte. Deserto do nada. Homens chegam. Outros partem”.

“ O bem e o mal disputam a primazia neste mundo. O Céu não é responsável pela felicidade ou desventura que o destino nos reserva. Não agradeças, pois, ao Céu, não o acuses também. Ele é indiferente à tuas alegrias, indiferente aos teus pesares”.

“ Quando eu não viver mais, não haverá rosas, nem ciprestes, nem lábios vermelhos, nem vinhos perfumados. Não haverá mais auroras, nem crepúsculos, nem alegrias, nem penas. O universo não existirá mais, pois tudo existe em função do meu pensamento”.

“ Lâmpadas que se apagam, esperanças que se acendem: Aurora. Lâmpadas que se acendem, esperanças que se apagam: Noite”.

Omar Khayyam (1040-1120), poeta, astrônomo e matemático nasceu na Pérsia. Khayyam, em persa significa, fabricante de tendas, uma atividade exercida pelo pai do poeta. Rubaiyat, plural da palavra persa rubai, que significa quartetos ou quadras. Tal obra recebeu a tradução de grandes literatos como Fitzgerald, Toussaint, M. Bandeira e J. L. Borges. Octávio Tarquínio de Sousa realizou um excelente trabalho de tradução, lançado pela Livraria José Olímpio Editora, onde desabrocha todo o imediatismo e pessimismo do poeta persa, diante do mistério do universo, mostrando que a filosofia e a ciência não vão além das aparências. Na vida, nada de largas esperanças nem de grandes ilusões. O breve momento do hoje pode dar uma ilusão de eternidade. Uma apologia ao Carpe Diem. Omar, utiliza em Rubaiyat, mensagens oriundas do Corão, mas, facilmente, cotejadas, nalguns pontos, com as verdades emanadas no livro sagrado do Eclesiastes, onde “ Tudo é ilusão”: “ O homem é uma sombra, a vida uma bolha de espuma, os rios correm ao mar, e as águas do mar sobem às nuvens, e as nuvens alimentam as fontes, geram os rios, e os rios correm ao mar, e as águas, etc., etc... E a conclusão do Eclesiastes: “Tema a Deus e obedeça aos seus mandamentos porque foi para isso que fomos criados. Nós teremos de prestar contas a Deus de tudo o que fizemos e até daquilo que fizemos em segredo, seja o bem ou o mal” (12.13-14).

Excertos de Rubaiyat de Omar Khayyam, versão portuguesa de Octávio Tarquínio de Sousa; Livraria José Olímpio Editora, décima-terceira edição, 1967.





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