sexta-feira, 20 de outubro de 2017

CRÔNICA DA AVESTRUZ




Num passado não muito distante, com a imprensa amordaçada por um governo discricionário, alguns jornais publicavam inocentes receitas de bolo, no lugar de crônicas ácidas ao regime político então vigente. Deste modo, foram silenciadas vozes altivas como as de Carlos Heitor Cony, Millôr Fernandes e Sérgio Porto, dentre outras. Nos temerários dias atuais, a colenda “ Casa do Povo”, também dita “ Casa de Mãe-Joana”, ocupada por gente, em geral, alheia aos anseios dos inocentes eleitores, em conluio com setores do Palácio do Planalto, habitado por criaturas estranhas e soturnas, cercadas de malas com conteúdo explosivo, e em completa desconexão com os desejos de 97% da população pacata e bovina, confeccionam às caladas da noite, um desastre de grandes proporções prestes a irromper.

Na loira desposada do sol, um insosso jornal televisivo que mama, sôfrego, nas tetas governamentais, passa o dia destilando abobrinhas para anestesiar a mente de seus inocentes telespectadores, e tome imagens das avenidas mostrando o fluxo de veículos automotores, além de fotos de crianças e de adultos com seus animais de estimação. Uma pândega! O dia a dia das notícias políticas é empurrado para baixo do tapete, contribuindo de forma decisiva com a reinante alienação do populacho.

No antigo regime das armas, a mordaça fazia-se às claras, na força bruta, e no atual desgoverno, sutilmente, o tapa-boca é movido a grana in natura abarrotando malas para os fiéis aliados, umas ratazanas de grande porte.

Que tal, curtir um sonífero, um velho artifício da oferta gratuita do pão e circo para aliviar a dor e esquecer a sensação de impotência diante destas barbáries?

“ Certa feita, um casal adentra num consultório odontológico. Ela, uma gentil e frágil dama e ele, um brutamontes tatuado com uma infinidade de dragões pelo corpo sarado. O dentista nem teve tempo de falar, pois o cliente logo mandou bala:

- Vou logo avisando, doutor, não precisa aplicar nada de anestésico. Arranque o dente, logo e estamos conversados.

- Ah, se meus clientes fossem assim, estoicos e guerreiros como o senhor, falou o dentista. - Qual é o dente que o incomoda?
O machão musculoso vira para a esposa e verbera: - abre a boca mulher! ”

Pode a escolha do povo, recair sobre a atitude da avestruz escondendo a cabeça numa fuga da realidade, mas o trem da democracia verde-amarelo desce o desfiladeiro, sem freio e sem maquinista, desembestado rumo a um inevitável e medonho desastre.

Acorda, Brasil, 2018 pode ser tarde demais!







-










Nenhum comentário:

Postar um comentário