quarta-feira, 20 de maio de 2015

OS DOIS PARAISOS   :  O ANTES E O DEPOIS


Quanta dificuldade surge  quando procura – se definir  termos  como tempo , vida e morte . Não há maiores óbices em distinguir se algo irradia vida  , se evidencia sinais de morte ou se observa  a ampulheta do tempo  escorrendo . Gozo  , alegria , sofrimento e  trabalho árduo , eis em que se  resume , a meu ver ,  o nosso     rápido passeio pelo   paraíso terreal . Na primeira etapa da existência o  bicho – homem mostra  crescimento , amadurecimento e algumas vezes , a  urdidura de  uma prole  . Na trajetória derradeira da  vida , aqueles que não são ateus   buscam  organizar um plano para viver em Deus e com  Deus :  é o que chamo  ,  o antes e o depois  da vida .  
Para C.G. Jung “ a morte seria um segundo nascimento “  ;  para L. Boff  “ na morte , o corpo não é mais percebido como barreira que nos separa de nossos semelhantes e de Deus , mas como expressão radical de nossa comunhão com a total realidade da matéria imanente e com todo o cosmos “ .
Há dois dias na sequência de mais um dia de  trabalho  , fui acometido de  uma breve parada cardíaca em seguida a uma convulsão generalizada  que me  colocou em franco  nocaute , fazendo –me , literalmente , beijar humildemente o solo onde piso .  Naquele pequeno intervalo de  tempo observei   lá do  alto meu invólucro corporal inerte em aparente  gozo de paz  verdadeira . O ambiente onde minha alma flutuava  irradiava  uma suave luz  livre de  qualquer  sonoridade . Nos segundos finais da contagem do tempo para definir a refrega retomei o prumo da vida  , de forma espontânea  .  Notei em meu  derredor ,  pés ,  pernas  e ouvi  vozes  de meus  fieis anjos da guarda  que nunca tiram  , graças a Deus  , licença – prêmio .  Dali  ,  gentilmente , concederam -me um  rápido  pouso numa UTI cardiológica .
Vivenciei com paciência de Jó  o drama da luta pela vida escorrendo por entre os dedos do outro lado da trincheira  , como um cliente comum , desarmado de todo o pretenso  saber médico . Naquele ambiente asséptico de luzes e aparelhos sonoros que não param nunca vislumbrei a indesejada das gentes de vestido branco e esvoaçante perambulando invisível  entre médicos e enfermeiras . Ela sempre a conferir o  placar a seu favor  .
Pelo visto  , não fui aceito , por enquanto ,  no paraíso   “ do depois “  . Quanto a passagem de um paraíso a  outro , o breve instante ensinou- me que , definitivamente  ,  na morte não existe dor , nem medo , apenas e somente  a  mais pura e resignada  aceitação.
A mesa enfim  , creio eu ,    encontra – se quase   posta , Senhor .  Mesmo tendo consciência que ora em diante   encontro- me  no  lucro , após beijar ligeiramente a face da morte ,  humildemente  Lhe rogo um pouco mais de tempo para dar um fecho em minha pequena , mas única ,  sinfonia terreal  .  Creia – me  , contudo  , Senhor ,  que  sou todo Seu .  Minha benção e obrigado a  todos .  Obrigado a vida  ! .




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