O Poeta e a Lua
" Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela rua
Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria.
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nádegas da lua
Entre as esferas nitentes
Tremeluzem pelos fulvos.
O poeta de olhar dormente
Entreabre o pente da lua
Entre frouxos de luz e água
Palpita a ferida crua .
O poeta todo se lava
De palidez e doçura
Ardente e desesperada
A lua vira em decúbito
A vinda lenta do espasmo
Aguça as pontas da lua.
O poeta afaga - lhe os braços
E o ventre que se menstrua
A lua se curva em arco
Num delírio de volúpia
O gozo aumenta de súbito
Em frêmito que perduram .
A lua vira o outro quarto
E fica de frente , nua.
O orgasmo desce do espaço
Desfeito em estrelas e nuvens
Nos ventos do mar perpassa
Um salso cheiro de lua
E a lua, no êxtase cresce
Se dilata e alteia e estua.
O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua
Depois lua adormece
E míngua e se apazigua.
O poeta desaparece
Envolto em cantos e plumas
Enquanto a noite enlouquece
No seu claustro de ciúmes ".
O Poeta e a Lua , autoria de Vinicius de Moraes ( 1913 - 1980 ).
A foto que ilustra o texto : noite enluarada , ontem em Fortaleza .
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