Uma Fábula : Zelo Suspeito
O Papagaio fez uma algazarra, porque viu o Tucano num pinheiro: mirou - lhe o bico enorme , o papo , a garra ... e notou a destreza que ele tinha para , num bote rápido e certeiro, tentar tirar os bons pinhões da pinha .
- " Não vês que tais sementes destruindo, tu como vândalo prejudica a recomposição do mato lindo, privando - o assim de novas frondes ricas ?"
O Tucano não deu ouças à trela nem de zanga mostrou nenhum indício. Ele bem sabe que esse tagarela só é zeloso em seu próprio benefício. O que ele quer com esse cuidado ativo , fazendo tais comícios indecentes, não é pelo proveito coletivo e, sim , para afastar os concorrentes.
" Esse egoísta reclama e faz desfeita ( disse o Tucano ) , porque é um ser mesquinho. Seu plano é resguardar toda a colheita, para , escondido, a devorar sozinho. "
O avaro Papagaio e mais sua crítica têm, entre os homens , um paralelismo: é assim que alguns Catões da alta política exercem o seu nobre patriotismo. "
Fábula da autoria de Serafim Franca ( 1888 - 1967 ) , jornalista , escritor e dramaturgo brasileiro .
Catão , o Velho : Marco Pórcio Catão ( 234 a.C - 148 a.C ) político e escritor da República Romana .
A fábula , expressão literária antiga , pitoresca , revela , quase sempre , uma verdade moral. Lança ideias e críticas, sem ferir especificamente ninguém. Hodiernamente , num burgo distante , uma extravagante união de um Papagaio e de um Tucano se apresenta num semovente tabuleiro de xadrez. Ufa !
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