SÍFILIS CONGÊNITA NO BRASIL: AINDA
UMA MÁCULA
Para a presidente Dra. Liduina Rocha
Girolamo
Fracastoro ou Hieronymous Fracastorius (1478- 1553), médico, astrônomo,
matemático, filósofo e poeta, é um digno representante da iluminada mente
renascentista. Na época, o termo doença venérea já era corrente e procedia de
Vênus, a deusa romana da beleza, do amor e da fecundidade. Era uma versão da
deusa grega Afrodite que deu origem aos termos afrodisíaco e hermafrodita (de
Hermes e Afrodite).
A palavra
sífilis foi criada por Fracastoro em um livro chamado “ Sífilis, ou a doença
francesa” publicado em 1530. Data deste período o dito jocoso “ Uma noite com
Vênus e o resto da vida com Mercúrio”.
A sífilis
congênita continua sendo uma enorme mácula e um grande desafio para as
políticas de saúde pública do Brasil e sua presença desnuda erros grosseiros no
sistema de saúde e na qualidade da assistência pré-natal. Foram registrados
mais de 100.000 casos de sífilis em gestantes na última década no Brasil. A OMS
confere que não deve existir mais de um caso para cada 1000 nascidos vivos. No
Brasil a média fica em torno de 7,4 casos de sífilis em gestantes para cada
1000 nascidos vivos.
Várias estratégias
de prevenção têm sido elaboradas com relação à Sífilis Congênita:
1. Assistência pré-natal abrangendo cem
por cento das gestantes, algo ainda não alcançado entre nós
2. Realização do teste sorológico VDRL
na primeira consulta pré-natal, repetido no terceiro trimestre e por ocasião do
parto
3. Diagnóstico e tratamento adequados
para o casal grávido
4. Registro no cartão da gestante de
forma minudente de todo tratamento realizado
5. Notificação dos casos de sífilis
congênita, incluindo aborto e natimorto
A maioria dos casos de sífilis diagnosticados na gravidez são
assintomáticos (sífilis latente) detectados com simples exames de VDRL e FTA-
abs. O restante dos casos distribuem-se em sífilis primária (cancro duro) e
sífilis secundária (lesões disseminadas na pele e queda de pelos). Os casos não tratados permitem a transmissão
vertical para quase cem por cento dos conceptos.
O tratamento com o emprego da Penicilina Benzatina em doses
adequadas traz a cura efetiva da sífilis. E por incrível que pareça, tem havido
desabastecimento de tal fármaco no mercado brasileiro, dependente de produtos
chineses e indianos. O tratamento farmacológico alternativo sugerido para substituir
a penicilina benzatina, em gestantes com sífilis, não surte o efeito desejado
quando se emprega a eritromicina e outros macrolídeos, posto que, estes
antibióticos passam em níveis baixos para o compartimento fetal, deste modo,
deixando o concepto sem um adequado tratamento. Tais antibióticos macrolídeos servem
apenas para tratar o casal grávido.
O grave problema da sífilis congênita no Brasil sofrerá amplo
revés ao se implantar programas bem definidos de assistência pré-natal de
qualidade, através de equipes multiprofissionais, aliadas a laboratórios de
análises clínicas com alto grau de resolutividade e presteza. Tudo isto contando
a retaguarda de larga distribuição de penicilina benzatina.
A educação constante
do casal com vistas a prevenção primária da sífilis e de outras doenças
sexualmente transmissíveis tem real impacto positivo no controle de tais
temerárias enfermidades.
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