DOIS BOIS E AS RÃS, UMA FÁBULA
“Dois enormes bois digladiavam
através da força bruta e de golpes baixos o amor de uma tenra novilha. Próximo
ao campo de batalha, uma rã conjecturava sobre sua pouca sorte.
- Que se passa contigo? – Perguntou-lhe
uma companheira, que não via razão para tal receio.
- Não vês logo – respondeu-lhe a
aflita rã- que desta refrega a que estamos assistindo sairão um vencedor e um
derrotado?
E o que me aflige é que o perdedor será perseguido até renunciar aos
verdes pastos onde habita e virá refugiar-se entre os caniços do brejo. Então,
nós estaremos correndo o risco de ser pisoteadas pelo brutamontes, de forma a
nos tornarmos as únicas vítimas do combate travado em disputa da senhorita
novilha.
Não era infundada a suspeita. Um dos
touros fugiu para o pântano, e de pronto, esmagou mais de vinte rãs.
Moral da história:
Assim acontece desde o princípio do
mundo: sempre haverá um mais fraco para sofrer as consequências das disputas
dos mais poderosos”
Adaptação de uma fábula de La Fontaine (1612- 1695).
Em terras ignotas situadas abaixo da
linha do equador, a “tenra novilha”, um frágil arremedo de democracia, assiste
a disputa cruel de dois bois corroídos até a medula pelo devastador cancro da
corrupção desbragada. As pobres e inocentes rãs das mais variadas cores, como famélicos”
zé povinhos”, verdadeiras massas de manobras, situadas no centro, na direita ou
na esquerda do brejo, tanto faz, coaxam tolos mantras que, apenas, desnudam sua
eterna e brutal alienação.
Bem feito!
Restaram tão somente terras
devastadas, especialmente, no planalto central, cujos “ bois” balofos e
picaretas não cumpriram com sua missão primordial de formarem novos planteis de
raça pura, imunes ao inebriante mundo ilusório daquilo que ergue e destrói
coisas belas.
Como sempre, muitas rãs serão
sacrificadas em vão!
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