domingo, 21 de maio de 2017

CERZINDO PALAVRAS COM ETERNOS POETAS



Um domingo do pede cachimbo com um céu de brigadeiro na “ loura esburacada do sol” e um convite para um cavaco maneiro com três artistas da palavra, tentando amenizar o pesado clima de dilúvio reinante em terra brasilis.

“Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida.

 Deixam- se enlaçar, tontas à carícia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia que as traga de novo ao centro da praça “ Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

“ Nessas manhãs de outono, misturada à gritaria da chuva lá fora, ouço a tua chegada: teus passos encharcados de silêncio. Danço com as palavras, deito-as em meu corpo e brinco e rio e sou vários: avanço e recuo meus pêndulos.

 Fico a rodopiar nesses verbetes, acaricio a estrutura maleável deste corpo, busco um compêndio de palavras gastas, roídas pelas transformações. Não sou vários, menti: sou um, sem armas e sem escudos, sou um. E tropeço em mim” Thiago de Mello (1926 -)

Nunca vi tanto desprezo pelo idioma pátrio como nessas midiáticas delações onde empresários e políticos pisoteiam palavras, evidenciando a pouca intimidade que tiveram com os estudos formais. 

Uma lástima!

“ Última flor do Lácio, inculta e bela/ és a um tempo, esplendor e sepultura/ouro nativo, que na ganga impura/a bruta mina entre os cascalhos vela/ amo-te assim, desconhecida e obscura/tuba de alto clangor, lira singela/que tens o trom e o silvo da procela/e o arrolo da saudade e da ternura/amo o teu viço agreste e o teu aroma/de virgens selvas e de oceano largo/amo-te ó rude e doloroso idioma/em que da voz materna ouvi: meu filho!/e em que Camões chorou, no exílio amargo/o gênio sem ventura e o amor sem brilho”

 Olavo Bilac (1865- 1918 ).


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