CERZINDO PALAVRAS COM ETERNOS POETAS
Um domingo
do pede cachimbo com um céu de brigadeiro na “ loura esburacada do sol” e um
convite para um cavaco maneiro com três artistas da palavra, tentando amenizar
o pesado clima de dilúvio reinante em terra brasilis.
“Lutar com
palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu
pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria
poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu
sustento num dia de vida.
Deixam- se enlaçar, tontas à carícia e súbito fogem e
não há ameaça e nem há sevícia que as traga de novo ao centro da praça “ Carlos
Drummond de Andrade (1902-1987)
“ Nessas
manhãs de outono, misturada à gritaria da chuva lá fora, ouço a tua chegada:
teus passos encharcados de silêncio. Danço com as palavras, deito-as em meu
corpo e brinco e rio e sou vários: avanço e recuo meus pêndulos.
Fico a
rodopiar nesses verbetes, acaricio a estrutura maleável deste corpo, busco um
compêndio de palavras gastas, roídas pelas transformações. Não sou vários,
menti: sou um, sem armas e sem escudos, sou um. E tropeço em mim” Thiago de
Mello (1926 -)
Nunca vi
tanto desprezo pelo idioma pátrio como nessas midiáticas delações onde
empresários e políticos pisoteiam palavras, evidenciando a pouca intimidade que
tiveram com os estudos formais.
Uma lástima!
“ Última
flor do Lácio, inculta e bela/ és a um tempo, esplendor e sepultura/ouro
nativo, que na ganga impura/a bruta mina entre os cascalhos vela/ amo-te assim,
desconhecida e obscura/tuba de alto clangor, lira singela/que tens o trom e o
silvo da procela/e o arrolo da saudade e da ternura/amo o teu viço agreste e o
teu aroma/de virgens selvas e de oceano largo/amo-te ó rude e doloroso
idioma/em que da voz materna ouvi: meu filho!/e em que Camões chorou, no exílio
amargo/o gênio sem ventura e o amor sem brilho”
Olavo Bilac (1865- 1918 ).
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