UMA QUASE TRAGÉDIA
SUBURBANA
Para Carlos Juaçaba
_ “ E aí, garanhão, mantendo firme cem por cento de
aproveitamento junto às meninas? ”, foi o cumprimento que Ariovaldo recebeu de
chofre naquela fatídica ocasião.
Pense numa verdadeira ducha de água fria naquela supimpa
noite na porta do Cine Diogo no centro de Fortaleza aí pelos idos de 60. Dona
Ermengarda largou com altivez o braço bambo do marido, o almoxarife Ariovaldo,
cheio de salamaleques diante daquele rojão certeiro.
_ “ Minha flor de mamulengo, devagar com a carruagem, não me
arme um escândalo numa hora desta. Explico: a mania deste velho amigo de noitadas
no “ Farol do Mucuripe “ é tratar todo homem, carinhosamente, de garanhão ”
Não houve jeito, o indigitado casal já andava em marcha
lenta pela esburacada estrada marital, há tempos, desde a última refrega quando
Ariovaldo fora flagrado pela sua digna consorte, em atitude suspeita, buzinando
sem som, nas volumosas tetas duma sirigaita dentro de um velho “ Gordini “ de
guerra na vizinhança do Matadouro Modelo.
Naquela ocasião ao adentrar no recinto do lar para as bandas
da Gentilândia , o baboso Ariovaldo , zangado como cobra que perdeu o veneno ,
dispara na retranca :
_ “ Meu docinho de coco, você confia mais na sua vista do
que em minha honrada palavra? Eu estava só em meu carro. Tudo não passou de uma
visagem, sem dúvida. Uma indevida ilusão de ótica pela cegueira de um ciúme
doentio. “
O tempo fechou em segundos, em raios e trovoadas num até
então céu de brigadeiro produzindo muito solavanco para ninguém botar defeito!
O furdunço foi parar na Assistência Municipal, o nosso glorioso Palácio de Mercúrio
Cromo da Praça da Bandeira, para os devidos reparos de urgência dos dois
incautos litigantes.
“ Nós dois, já não somos os mesmos
Não dá para tampar
O sol com a peneira
E nos enganar
Se vê no olhar o que a boca não diz
Você não é feliz
Nem eu
E é por isso que a
gente não se entende mais
E quando a gente
transa
Amor já não faz
Essa é a razão da insatisfação
Tá faltando paixão
E aí nós ficamos brigando até mesmo na rua
Eu saio arranhado e
você seminua
E da última vez ainda temos sinais de lesões corporais
Você fica de mal comigo e com raiva da vida
Se cai na rotina
Eu vou pra bebida
Será que a gente não se gosta mais
A gente quebra a monotonia, esbanjando baixaria
E o coração que se arrebente
A gente tá passando dos limites
Tantas mágoas, acredite
Não há amor que aguente “
Canção de Gilson e Joran , gravada por Emílio Santiago
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