domingo, 29 de maio de 2016

RENÉ LAENNEC – “ UM OUVIDO Q UE ENXERGA “

René – Théophile – Hyacinthe – Laennec (1781 – 1826) nasceu no burgo de Quimper , na Baixa Bretanha no dia 17 de fevereiro de 1781 . Seus pais foram Teophile Laennec e Michelle Gabrielle Felicite Guesdan. O pequeno Laennec ficou órfão aos 6 anos de idade com a morte em decorrência de provavel tuberculose e infecção puerperal de sua mãe Michelle. Para a criação do menor foi designado seu tio paterno, Guillaume , médico radicado em Nantes , no ano de 1788 . Ali Laennec sorveu com vigor uma rica cultura humanística visitando, instigado pelo seu novo tutor, áreas como religião, ciências políticas, ortografia, gramática, retórica, geografia, línguas estrangeiras, além de prosa e poesia latinas.
Encontramos Laennec aos 15 anos de idade auxiliando o tio Guillaume num grande hospital de Nantes no amparo a feridos em meio ao processo sanguinário da Revolução Francesa. No período de 1795 – 1800 Laennec cursou, com destaque, a faculdade medicina em Nantes. Em 1801 ruma para Paris e ali encontra gigantes da rica medicina francesa como Corvisart , Bayle , Dupuytren e Braussais .
Em 1804 Laennec defende a tese doutoral intitulada “ Proposições Sobre a Doutrina de Hipócrates em Relação com a Medicina Prática “ e realiza uma magistral conferência onde descreve a Peste Branca – a tuberculose – separando-a de tantas outras doenças do trato respiratório.
Desde a era de Hipócrates e Galeno procurou-se interpretar os variados sons advindos do tórax de portadores de doenças cardíacas e pulmonares. Corvisasrt e Auenbrugger através de ausculta direta descreveram achados importantes em ausculta e percussão de enfermos. Caberá a Laennec inventar um instrumento singelo e apropriado para recolher do tórax as mensagens do normal e do patológico. Surge o estetoscópio como um cilindro de papel que em seguida evolui para um instrumento mono- auricular de madeira. A palavra resulta da combinação de raízes gregas: stethos (peito) e scopein (examinar).
A origem de tudo deveu- se a uma consulta médica com uma dama jovem e obesa portadora de provável cardiopatia. Laennec por excessivo pudor e recato não se sentiu à vontade para encostar seu ouvido entre os seios da paciente. Simples: dobrou uma folha de papel em forma de funil que fez o milagre da ausculta mediata. Muitos de seus colegas não deram crédito a tal descoberta. Em 1819 Laennec lança o “ Tratado Sobre a Auscultação Mediata “ que logo torna-se um clássico na literatura médica de então. Relata- se que aos compradores, era ofertado um exótico brinde: um estetoscópio de madeira.  Confrontando achados de necropsia com relatos   frutos de anamnese e de exame clínico, Laennec  pôs em curso o seu Método Anatomoclínico .
Morgagni e Valsalva , dois grandes luminares da medicina francesa da época advertiam aos médicos incautos : “ Afastem-se dos cadáveres de pacientes com tuberculose “ . Laennec , erroneamente pensava que a Peste Branca não era contagiosa e que advinha da miséria e da má qualidade da vida nas cidades . Admitia, contudo, que a tuberculose e o câncer mostravam-se absolutamente incuráveis.

Laennec ainda produziu um “ Tratado das Afecções Pulmonares “ e Notas sobre Anatomia Patológica “. A tísica sorrateira, provavelmente adquirida num acidente com uma serra numa necropsia e o trabalho sem descanso em ambientes insalubres corroeram a frágil saúde de Laennec e a parca o encontrou no avaro dia 13 de agosto de 1826 , no solar de Kerlouarnec , à beira da enseada de Douarnener . Assim partiu para a eternidade um dos gigantes da arte hipocrática de todos os tempos.

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