quinta-feira, 17 de setembro de 2015


DARCY  RIBEIRO ,  UM GÊNIO CABOCLO

Darcy Ribeiro , nasceu na cidade de Montes Claros , uma boca de entrada do sertão nordestino , no Estado de Minas Gerais ,no dia 25 de outubro de 1922 . “ Dizem que fui fundado , o que não é verdade , posto que , nasci de parto natural . Cresci  , fazendo as bobagens habituais . Moço , quis ser médico e terminei   , antropólogo “ .

1922 : Um ano importante para o Brasil  ,  com o advento da  Semana da Arte Moderna . Morre o mais brasileiro e sofrido de nossos grandes escritores , Lima Barreto , sorvendo um cálice de parati . Nascimento de Leonel Brizola , político populista , filho de um carreteiro e que chegou ao mundo  para azucrinar os militares da República .  

 Darcy graduou – se no ano de  1946 em Antropologia pela Escola de Sociologia Política de São Paulo , aos 24 anos de idade e logo partiu para estudar os Índios do Pantanal , do Brasil Central e da Amazônia ( 1946 – 1956 ) , assessorando o desassombrado  Marechal Rondon . Foi o fundador do Museu do Índio e seu diretor por algum tempo , organizando  o primeiro curso brasileiro de pós – graduação direcionado a antropólogos .  Seduzido pelo educador Anísio Teixeira , construiu firme carreira como educador , reitor e , depois , Ministro de Estado ( ( 1955 – 1964 ) . “ Topou aí com João Goulart ( Jango ) , que o descaminhou para as tentativas de promover a reforma agrária e conter a ganância das multinacionais . Foi um desastre . Exilado  , por conta da Redentora , virou latino-americano e passou muitos anos ( 1964 – 1975 ) remendando universidades no Uruguai , na Venezuela , no Peru e  até na Argélia “  .

Foi o fundador da Universidade de Brasília .

Voltou ao Brasil , disposto a cheirar ou feder , conforme o nariz . Em meio a isto tudo lançou vários livros importantes que compõem seus Estudos de Antropologia da Civilização (  O Processo Civilizatório , As Américas e a Civilização , O Dilema da América Latina , Os Índios e a Civilização e Os Brasileiros )  e alguns romances

Em 1978 recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de  Sorbonne .

São suas , estas  palavras  , meio pascalinas  :

“ Eu! Sei perfeitamente quem sou eu , que sou . Um ser minúsculo , sei , mortal , de existência brevíssima colocado na calota do universo . Aqui posto , olho as infinitudes que para além de mim , sem fim, se desdobram num universo imenso , eterno . Inútil . Também posso voltar – me para mim , atento às voltas de meus intestinos ou para meu sentimento do mundo . O atrativo mesmo é olhar a meu redor , ver as gentes parecidas comigo , sobretudo as de sexo complementar que aí estejam pelejando , convivíveis . Espantosa é a visão , se me exorbito e olho lá pra fora , para esse mundão de grandeza inesgotável ´independente de mim ,a mim indiferente . Um despautério : tanta magnitude fútil , tanta eternidade oca . ... O que me comove mesmo é a relação : eu e os mais .  Não é uma visão de mim sem eles , nem deles sem mim . É sempre a visão de mim com eles , parte deles ; nós todos nos comunicando com espermas e palavras para nos perpetuarmos e nos entendermos ..... Porque o Brasil não deu certo ? Ainda não deu ! Vai dar? Como ? Por que caminho ? “ .

Mudemos de assunto .  “ Marinheiro neste mundo , amor é o vento que sopra minhas velas nas travessias .Amando navego por mares calmos e bravios, me sentindo ser e viver .  Não posso é viver sem amor , desamado na pasmaceira das calmarias ; parado , bradando de ver o mar da vida marulhar à toa .  A sedução intelectual me remedeia um pouco . Amor , uma doida já  disse :  é carne feita espírito . “

Este ser irrequieto , múltiplo , polêmico ,  e extremamente criativo, travou e venceu inúmeras batalhas pela vida afora  : a favor dos índios , pela educação formal , pela reforma agrária e contra a Ditadura . A sua pior e mais perversa contenda durou 20 anos , contra um câncer .

“ Eu não tenho medo da morte . A morte é apagar – se , como apagar a luz . Presente , passado e futuro ? . Tolice . Não existem . A vida vai construindo e destruindo . O que vai ficando para trás com o passado , é a morte . O que está vivo vai adiante  . Detestaria estar no lugar de quem me venceu ! “ .

 

    

 

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