DARCY RIBEIRO ,
UM GÊNIO CABOCLO
Darcy Ribeiro , nasceu na cidade de Montes Claros , uma boca
de entrada do sertão nordestino , no Estado de Minas Gerais ,no dia 25 de
outubro de 1922 . “ Dizem que fui fundado , o que não é verdade , posto que ,
nasci de parto natural . Cresci ,
fazendo as bobagens habituais . Moço , quis ser médico e terminei ,
antropólogo “ .
1922 : Um ano importante para o Brasil , com
o advento da Semana da Arte Moderna .
Morre o mais brasileiro e sofrido de nossos grandes escritores , Lima Barreto ,
sorvendo um cálice de parati . Nascimento de Leonel Brizola , político
populista , filho de um carreteiro e que chegou ao mundo para azucrinar os militares da República .
Darcy graduou – se no
ano de 1946 em Antropologia pela Escola
de Sociologia Política de São Paulo , aos 24 anos de idade e logo partiu para
estudar os Índios do Pantanal , do Brasil Central e da Amazônia ( 1946 – 1956 )
, assessorando o desassombrado Marechal
Rondon . Foi o fundador do Museu do Índio e seu diretor por algum tempo ,
organizando o primeiro curso brasileiro
de pós – graduação direcionado a antropólogos .
Seduzido pelo educador Anísio Teixeira , construiu firme carreira como
educador , reitor e , depois , Ministro de Estado ( ( 1955 – 1964 ) . “ Topou
aí com João Goulart ( Jango ) , que o descaminhou para as tentativas de
promover a reforma agrária e conter a ganância das multinacionais . Foi um
desastre . Exilado , por conta da
Redentora , virou latino-americano e passou muitos anos ( 1964 – 1975 )
remendando universidades no Uruguai , na Venezuela , no Peru e até na Argélia “ .
Foi o fundador da Universidade de Brasília .
Voltou ao Brasil , disposto a cheirar ou feder , conforme o
nariz . Em meio a isto tudo lançou vários livros importantes que compõem seus
Estudos de Antropologia da Civilização (
O Processo Civilizatório , As Américas e a Civilização , O Dilema da
América Latina , Os Índios e a Civilização e Os Brasileiros ) e alguns romances
Em 1978 recebeu o título de Doutor Honoris Causa da
Universidade de Sorbonne .
São suas , estas palavras
, meio pascalinas :
“ Eu! Sei perfeitamente quem sou eu , que sou . Um ser
minúsculo , sei , mortal , de existência brevíssima colocado na calota do
universo . Aqui posto , olho as infinitudes que para além de mim , sem fim, se
desdobram num universo imenso , eterno . Inútil . Também posso voltar – me para
mim , atento às voltas de meus intestinos ou para meu sentimento do mundo . O
atrativo mesmo é olhar a meu redor , ver as gentes parecidas comigo , sobretudo
as de sexo complementar que aí estejam pelejando , convivíveis . Espantosa é a
visão , se me exorbito e olho lá pra fora , para esse mundão de grandeza
inesgotável ´independente de mim ,a mim indiferente . Um despautério : tanta
magnitude fútil , tanta eternidade oca . ... O que me comove mesmo é a relação
: eu e os mais . Não é uma visão de mim
sem eles , nem deles sem mim . É sempre a visão de mim com eles , parte deles ;
nós todos nos comunicando com espermas e palavras para nos perpetuarmos e nos
entendermos ..... Porque o Brasil não deu certo ? Ainda não deu ! Vai dar? Como
? Por que caminho ? “ .
Mudemos de assunto . “ Marinheiro neste mundo , amor é o vento que
sopra minhas velas nas travessias .Amando navego por mares calmos e bravios, me
sentindo ser e viver . Não posso é viver
sem amor , desamado na pasmaceira das calmarias ; parado , bradando de ver o
mar da vida marulhar à toa . A sedução
intelectual me remedeia um pouco . Amor , uma doida já disse :
é carne feita espírito . “
Este ser irrequieto , múltiplo , polêmico , e extremamente criativo, travou e venceu
inúmeras batalhas pela vida afora : a
favor dos índios , pela educação formal , pela reforma agrária e contra a
Ditadura . A sua pior e mais perversa contenda durou 20 anos , contra um câncer
.
“ Eu não tenho medo da morte . A morte é apagar – se , como
apagar a luz . Presente , passado e futuro ? . Tolice . Não existem . A vida
vai construindo e destruindo . O que vai ficando para trás com o passado , é a
morte . O que está vivo vai adiante .
Detestaria estar no lugar de quem me venceu ! “ .
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