“ DOU POR MORTO “
Um paciente extremamente grave , em estado terminal , submetido a uma delicada cirurgia , mostra uma severa sepse , com hipotensão refratária a medicamentos vasopressores e evidenciando falha na função de órgãos nobres . Um dos cirurgiões presentes ao ato cirúrgico , à beira de um colapso por exaustão , desaba , retirando , e jogando ao chão , de forma áspera as luvas , postando – se fora do embate : - “ Não há mais nada a fazer . Dou por morto , e , pronto ! “ .
Desespero ? , insensibilidade ? , impotência ? , falta de fé em Deus ? .
Algo parecido ocorre com uma nação situada abaixo da linha do equador , onde não existe pecado , quando mostra uma perda do grau de investimentos , uma recessão de 2, 75 % ( 2015 ) e uma inflação de 9 , 28 % ( 2015 ) , vivendo um stress econômico extremo . A situação encontra –se muito próxima de , não havendo mais chances , se jogar as “ luvas no chão “ e verberar desconsolado : “ – Dou por morto , e , pronto ! “ .
Quem projeta tal desastre falando , em letras garrafais , num “ paciente em estado terminal “ é o hebdomadário de um rico irmão do Norte , um tal de “ Financial Times “ . Cruz , Credo ! .
Eu , por mim , estou de malas prontas , em meio a esta deprimente e desumana onda migratória , e :
“ Vou – me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau – de – sebo
Tomarei banhos de mar !
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe – d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou – me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou – me embora pra Pasárgada “ . Poema de Manuel Bandeira .
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