Meu Querido Ceará
"A história do Ceará é um poema de dores, porque a vida dos cearenses é um martírio de três séculos. Martírio imenso que se adensa na assombrosa desgraça dos tempos calamitosos, e se condensa na superlativa intensidade dos maiores sofrimentos físicos e morais.
Mas depois do poema da dor, o poema da glória, depois das angústias do sofrimento , a epopeia da liberdade; depois da palavra do martírio, a consagração do heroísmo.
A glória do povo cearense é cair como mártir e levantar - se como herói. A desgraça não lhe tolhe o fecundo espírito de iniciativa na solução dos gravíssimos problemas sociais, nem a adversidade lhe entibia os passos no luminoso caminho do progresso.
Muito embora causticado pelas irradiações flamejantes do sol tropical e flagelado pelas rigorosas secas devastadoras, o Ceará, sublime de heroísmo, nunca se rendeu à cega tirania do destino: porque no seio desta natureza ubérima os desfalecimentos da covardia não medram.
Às vezes o corpo verga, tomba e cai sob o peso descomunal do infortúnio, porque não somos de ferro; mas que importa ? - a alma é sempre como o condor no meio da tempestade; - abre as asas possantes e ergue o vôo altaneiro aos sossegados páramos do infinito! Às vezes também a sombra negra dos pesares nos rouba o sereno brilho dos olhos, e choramos lágrimas sentidas, porque não somos de mármore; mas que importa ainda ? - o coração é sempre como a fênix mitológica, - renasce mais varonil, mais forte e mais heróico das cinzas de todas as mágoas!
E quando a luz dos máximos ideais circunfulge nos abismos do infortúnio, qual formosíssima banda de relâmpagos cintando uma atmosfera de trevas; quando o calor ingente dos supremos entusiasmos desfaz a névoa do pranto , como o disco refulgente do sol derrete a névoa do pranto, como o disco refulgente do sol derrete a neve das montanhas; então este nobilíssimo povo cearense, pugilo de gigantes num imenso país de bravos , levanta - se transfigurado, soberbo titânico e solta aos quatro ventos o brado triunfal dos heróis: - Sou pobre, mas só quero luz ; sou pequeno mas só fito as alturas; nasci para a luta, mas vivo para a glória, - a imortalidade é minha - Vivo ego in aeternum!
Perfeitamente. Na constelação fulgurante dos Estados Unidos do Brasil podem existir e existem realmente Estados mais poderosos, mais opulentos, de tradições mais pomposas, de vida mais brilhante e de história mais vezes secular; nem um , porém conheço eu mais fidalgo, nem um mais heroico , de tradições mais comoventes , de vida mais intensa nem de história mais gloriosa , que o nosso Ceará. "
Crônica mimosa da autoria do Padre Francisco Valdivino Nogueira ( 1866 - 1921 ) , cearense nascido em Limoeiro do Norte. Foi notável orador sacro e cultivou as musas, com delicadeza e sentimento.
E um dos fundadores do Instituto do Ceará, e da Academia Cearense de Letras.
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