segunda-feira, 15 de junho de 2020


Cantares , de Antônio Machado
"Tudo passa e tudo fica
Porém o nosso é passar,
Passar fazendo caminhos
Caminhos sobre o mar.
Nunca persegui a glória
Nem deixar na memória
Dos homens minha canção
Eu amo os mundos sutis
Leves e gentis,
Como bolhas de sabão.
Gosto vê-los pintar - se
De sol e grená voar
Abaixo o céu azul , tremer
Subitamente e quebrar - se...
Nunca persegui a glória
Caminhante , são tuas pegadas
O caminho e nada mais;
Caminhante , não há caminho,
Se faz caminho ao andar.
Ao andar se faz caminho
E ao voltar a vista atrás
Se vê a senda que nunca
Se há de voltar a pisar.
Caminhante não há caminho
Senão há marcas no mar...
Faz algum tempo neste lugar
Onde os bosques se vestem de espinhos
Se ouviu a voz de um poeta gritar
"Caminhante não há caminho,
Se faz caminho ao andar "...
Golpe a golpe, verso a verso...
Morreu o poeta longe do lar
Cobre - lhe o pó de um país vizinho.
Ao afastar - se lhe vieram chorar
"Caminhante não há caminho,
Se faz caminho ao andar ..."
Golpe a golpe, verso a verso...
Quando o pintassilgo não pode cantar.
Quando o poeta é um peregrino.
Quando se nada nos serve rezar.
"Caminhante não há caminho,
Se faz caminho ao andar..."
Golpe a golpe , verso a verso ".
Cantares, de autoria do poeta espanhol Antônio Machado (1875 - 1939), pertencente ao Movimento Modernista.

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