quinta-feira, 1 de março de 2018


 UM TIME DE BRANCO DA MPB

Para o Mestre e Poeta Martinho Rodrigues



Max Nunes, Joubert de Carvalho, Alberto Ribeiro, Paulo Vanzolini, Capinam, Aldir Blanc, Zé Dantas, Dalto, Noel Rosa, Gordurinha e Belchior. Onze nomes que enriquecem a nossa Música Popular Brasileira (MPB) e que, de algum modo, tiveram contato com a sublime profissão de médico. Belchior, Gordurinha e Noel Rosa, principiaram, mas não chegaram a concluir o curso de medicina.
Max Nunes (1922- 2014), humorista, compositor e médico:
“Bandeira branca, amor/não posso mais/pela saudade/ que me invade, eu peço paz/saudade mal de amor, de amor/saudade, dor que dói demais/vem, meu amor/ bandeira branca, eu peço paz”. Canção Bandeira Branca, de autoria de Max nunes e Laércio Alves.

Joubert de Carvalho (1900-1977), compositor, arranjador e médico:
“Ta-Hi/eu fiz tudo/pra você gostar de mim/oh! , meu bem/faz assim comigo não/você tem, você tem/que me dar seu coração/meu amor, não posso esquecer/se dá alegria/faz também sofrer/a minha vida foi sempre assim/só chorando as mágoas/que não tem fim/essa história de gostar de alguém/já é mania/que as pessoas tem/ se me ajudasse/Nosso Senhor/eu não pensaria mais no amor”

Alberto Ribeiro (1902- 1971), cantor, compositor e médico:
“Copacabana, princesinha do mar/pelas manhãs, tu és a vida a cantar/e à tardinha ao sol poente/deixas sempre uma saudade, na gente/Copacabana, o mar eterno cantor/ao te beijar, ficou perdido de amor/e, hoje vivo a murmurar/só a ti, Copacabana, eu hei de amar”. Canção Copacabana, de autoria de Alberto Ribeiro e Braguinha.

Paulo Vanzolini (1924 – 2013), compositor, médico/zoólogo:
“De noite eu rondo a cidade/a te procurar sem encontrar/no meio de olhares espio/em todos os bares/você não está/volto pra casa abatida/desencantada da vida/o sonho alegria me dá/nele você está/ah, se eu tivesse/quem bem me quisesse/esse alguém me diria/”desiste, esta busca é inútil”/eu não desistia/porém, com perfeita paciência/volto a te buscar/hei de encontrar/bebendo com outras mulheres/rolando um dadinho/jogando bilhar/e neste dia, então/vai dar na primeira edição/cena de sangue num bar/da Avenida São João/. Canção Ronda de autoria de Paulo Vanzolini.

José Carlos Capinam (1941-), poeta, escritor, jornalista e médico:
“Era um, era dois, era cem/era o mundo chegando e ninguém/que soubesse que eu sou violeiro/que me desse amor ou dinheiro/era um, era dois , era cem/vieram pra me perguntar/ô, você, de onde vai, de onde vem/diga logo o que tem pra contar/parado no meio do mundo/senti chegar meu momento/olhei pro mundo e nem via/nem sombra, nem sol, nem vento/quem me dera agora/eu tivesse a viola pra cantar/era um dia, era claro, quase meio/era um canto calado, sem ponteio/violência, viola, violeiro/era morte em redor, mundo inteiro/era um dia, era claro, quase meio/tinha um que jurou me quebrar/mas não lembro de dor, nem receio/só sabia das ondas do mar/jogaram a viola no mundo/mas fui lá no fundo buscar/se eu tomo a viola ponteio/meu canto não posso parar, não/quem me dera agora/eu tivesse a viola pra cantar/era um, era dois, era cem/era um dia, era claro, quase meio/encerrar meu cantar já convém/prometendo um novo ponteio/certo dia que sei por inteiro/eu espero, não vá demorar/este dia estou certo que vem/digo logo o que vim pra buscar/correndo no meio do mundo/ não deixo a viola de lado/vou ver o tempo mudado/e um novo lugar pra cantar/quem me dera agora/eu tivesse a viola pra cantar”. Canção Ponteio de autoria de Capinam e Edu Lobo.

Aldir Blanc (1946 -), compositor, escritor, médico:
“Doutor/jogava o Flamengo, eu queria escutar/chegou/mudou de estação, começou a cantar/tem mais/um cisco no olho, ela em vez de assoprar/sem dó/falou que por ela eu podia cegar/se eu dou/um pulo, um pulinho, um instantinho no bar/bastou/durante dez noites me faz jejuar/levou/as minhas cuecas prum bruxo rezar/coou/meu café na calça pra me segurar/se tô, ai, se eu tô/devendo dinheiro e vem me cobrar/e vem me cobrar/doutor/ai, doutor/a peste abre a porta e ainda manda sentar/e ainda manda sentar/depois/se eu mudo de emprego que é pra melhorar/que é só pra melhorar/vê só/convida a mãe dela pra ir morar lá/se eu peço feijão, ela deixa salgar/calor/ai, calor/mas veste casaco pra me atazanar/só pra atazanar/e ontem/sonhando comigo, mandou eu jogar/no burro/foi no burro/e deu na cabeça, a centena e o milhar/ai, quero me separar”.  Canção Incompatibilidade de Gênios, de autoria de Aldir Blanc e João Bosco.

Zé Dantas (1821- 1962), José de Sousa Dantas Filho: Compositor, poeta, folclorista e médico:
“Já faz três noites, que pro Norte relampeia/a Asa Branca, ouvindo o ronco do trovão/já bateu asas, e voltou pro meu sertão/ai, ai, eu vou embora/ vou cuidar da plantação/já bateu asas e voltou pro meu sertão/ai, ai, eu vou embora/vou cuidar da plantação/a seca fez eu desertar da minha terra/mas felizmente, Deus agora se lembrou/de mandar chuva , pra este sertão sofredor/sertão da mulher séria, do homem trabalhador/rios correndo, as cachoeiras tão zoando/terra molhada, mato verde, que riqueza/e a Asa Branca salta e canta, que beleza/está o povo alegre, mais alegre a natureza/sentindo a chuva eu me recordo de Rosinha/a linda flor do meu sertão pernambucano/e se a safra não atrapalhar meus planos/que que há, ó seu vigário/vou casar no fim do ano!” . Canção A Volta da Asa Branca, de autoria de Zé Dantas.

Dalto (1949-), Dalto Roberto Medeiros: Cantor, compositor e médico:
“Se você vê estrelas demais/lembre que um sonho não volta atrás/chega perto e diz anjo/se você sente o corpo colar/solte o seu medo bem devagar/chega perto e diz anjo/se uma coisa louca/sai do seu olhar/fica em silêncio/deixa o amor entrar/pra que tanta pressa de chegar/se eu sei o jeito e o lugar/se eu sei o jeito e o lugar”.  Canção Anjo, da autoria de Dalto, Cláudio Rebello e Renato Correa.

Noel Rosa (1910- 1937), cantor e compositor: Não concluiu o curso de medicina:
“Quem acha, vive se perdendo/por isso agora eu vou me defendendo/da dor tão cruel desta saudade/que, por infelicidade/meu próprio peito invade/batuque é um privilégio/ninguém aprende samba no colégio/sambar é chorar de alegria/é sorrir de nostalgia/dentro da melodia/por isso agora lá na Penha/ vou mandar minha morena/pra cantar com satisfação/e com harmonia/ esta triste melodia/que é meu samba em feitio de oração/o samba na realidade, não vem do morro/nem lá da cidade/e quem suportar uma paixão/saberá que o samba , então/ nasce do coração”
Canção Feitio de oração, de autoria de Noel Rosa e Vadico.

Gordurinha (1922 – 1969), Waldeck Artur de Macedo: cantor, compositor, humorista. Estudou medicina, mas não concluiu o curso.
“Oh! Deus, perdoe este pobre coitado/que de joelhos rezou um bocado/pedindo pra chuva cair sem parar/Oh! Deus, será que o Senhor se zangou/ e só por isso o sol retirou/fazendo cair toda a chuva que há/ Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho/pedi para chover, mas chover de mansinho/pra ver se nascia uma planta no chão/Oh! Deus, se eu não rezei direito/ o Senhor me perdoe/eu acho que a culpa foi/desse pobre que não sabe fazer oração/Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água/e ter-lhe pedido cheinho de mágoa/pro sol inclemente se retirar/desculpe eu pedir a toda hora/para chegar o inverno/desculpe eu pedir para acabar com o inferno/que sempre queimou o meu Ceará”. Composição Súplica Cearense, de autoria de Gordurinha.

Belchior (1946- 2017), Antônio Carlos Belchior, cantor e compositor. Cursou a faculdade de medicina, mas não completou a graduação.
“Há tempo, muito tempo/que eu estou longe de casa/e nessas ilhas cheias de distância/o meu blusão de couro se estragou/ouvi dizer num papo da rapaziada/que aquele amigo/ que embarcou comigo/cheio de esperança e fé/já se mandou/sentado à beira do caminho/pra pedir carona/tenho falado à mulher companheira/quem sabe lá no Trópico a vida esteja a mil/e um cara que transava a noite/no Danúbio Azul/me disse que faz sol/na América do Sul/e nossas irmãs nos esperam/ no coração do Brasil/minha rede branca/meu cachorro ligeiro/sertão, olha o Concorde/que vem vindo do estrangeiro/o fim do termo Saudade/como o charme brasileiro/de alguém sozinho a cismar/gente de minha rua/como eu andei distante/quando eu desapareci/ela arranjou um amante/minha normalista linda/ainda sou estudante/da vida que eu quero dar/até parece que foi ontem/minha mocidade/com diploma de sofrer /de outra Universidade/minha fala nordestina/quero esquecer o francês/e eu vou viver as coisas novas/que também são boas/o amor, humor das praças/cheias de pessoas/agora eu quero tudo/tudo outra vez/gente de minha rua/como eu andei distante/quando eu desapareci/ela arranjou um amante/minha normalista linda/ainda sou estudante/da vida que eu quero dar” . 

Canção Tudo Outra Vez, de autoria de Belchior.
Ufa!





















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