ARES DE MUDANÇA
“O Ceará é o
ferreiro maldito, de quem fala a lenda popular: quando tem ferro falta carvão.
É nadador contra a corrente, que nunca chega; o caranguejo que anda e desanda;
o eco a repetir a pergunta sem lhe dar resposta; o nó sem ponta; o sonho que
promete em sombras que não se distinguem bem, a vaga esperança, enfim, para a
qual nunca chega o dia.
Há cem anos,
um povo gigante, a mover-se, não adianta um passo, como um frágil esquife sobre
as ondas, que a corrente impele, e o vento faz recuar. Não lhe falta alma. São
os deuses que os condenam à pena de Tântalo – morrer de sede à beira do regato.
Os diretores mentais do Ceará morreram ou foram longe procurar um teatro para
exibição de sua intelectualidade; e crestam na penúria os rebentos da
capacidade cearense, a disputarem um pouco de ar, que aliás lhe mata o
estímulo; o ar mefítico das baixas regiões oficiais...
Que seja
para os netos de nossos netos, não importa. O mundo não é tão curto, que acabe
em nós; e cem anos, na ordem dos tempos, é muito menos de um til nos lábios”
Excertos de
“O Ferreiro da Maldição”, publicado no Jornal “O Unitário” de Fortaleza, com a
data de 20 de maio de 1903, da autoria de João Brígido (1829 – 1921),
jornalista, cronista, historiador e político.
Parece que
foi ontem, e o atual quadro político desenhado no sofrido torrão cearense, traz
justa inquietação, em meio a um encapelado mar de gigantescas ondas, a exigir
de todos, firmeza e pulso forte na condução do frágil barco da democracia.
Auguste de
Saint – Hilaire (1779-1853) um naturalista francês que andou pelo Brasil
estudando plantas, cunhou uma frase que até hoje reverbera e soa como verdade,
em um profético tom:
” Ou o
Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”.
A saúva, aí está, hoje representada pela
brutal corrupção, que corrói todas as estruturas de nossas corporações, a
níveis estadual, municipal e federal. Num ano de eleições, o cidadão consciente
poderá definir o rumo certo que deverão tomar nossas instituições, caso
contrário, assistiremos o soçobrar fragoroso do Titanic verde e amarelo! Muda
Brasil!
Ponto final.
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