sexta-feira, 9 de março de 2018


ARES DE MUDANÇA



“O Ceará é o ferreiro maldito, de quem fala a lenda popular: quando tem ferro falta carvão. É nadador contra a corrente, que nunca chega; o caranguejo que anda e desanda; o eco a repetir a pergunta sem lhe dar resposta; o nó sem ponta; o sonho que promete em sombras que não se distinguem bem, a vaga esperança, enfim, para a qual nunca chega o dia.

Há cem anos, um povo gigante, a mover-se, não adianta um passo, como um frágil esquife sobre as ondas, que a corrente impele, e o vento faz recuar. Não lhe falta alma. São os deuses que os condenam à pena de Tântalo – morrer de sede à beira do regato. Os diretores mentais do Ceará morreram ou foram longe procurar um teatro para exibição de sua intelectualidade; e crestam na penúria os rebentos da capacidade cearense, a disputarem um pouco de ar, que aliás lhe mata o estímulo; o ar mefítico das baixas regiões oficiais...

Que seja para os netos de nossos netos, não importa. O mundo não é tão curto, que acabe em nós; e cem anos, na ordem dos tempos, é muito menos de um til nos lábios”
Excertos de “O Ferreiro da Maldição”, publicado no Jornal “O Unitário” de Fortaleza, com a data de 20 de maio de 1903, da autoria de João Brígido (1829 – 1921), jornalista, cronista, historiador e político.

Parece que foi ontem, e o atual quadro político desenhado no sofrido torrão cearense, traz justa inquietação, em meio a um encapelado mar de gigantescas ondas, a exigir de todos, firmeza e pulso forte na condução do frágil barco da democracia.
Auguste de Saint – Hilaire (1779-1853) um naturalista francês que andou pelo Brasil estudando plantas, cunhou uma frase que até hoje reverbera e soa como verdade, em um profético tom:

” Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”.

 A saúva, aí está, hoje representada pela brutal corrupção, que corrói todas as estruturas de nossas corporações, a níveis estadual, municipal e federal. Num ano de eleições, o cidadão consciente poderá definir o rumo certo que deverão tomar nossas instituições, caso contrário, assistiremos o soçobrar fragoroso do Titanic verde e amarelo! Muda Brasil!

Ponto final.




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