segunda-feira, 12 de setembro de 2016

SANGER E PINCUS: OS PAIS DA PÍLULA ANTICONCEPCIONAL


Para a Dra. Silvia Bomfim Hypollito


No dia 11 de maio de 1960, o FDA, a agência que regula os fármacos nos Estados Unidos da América  aprovou a liberação da primeira pílula anticoncepcional , com o nome de Enovid , aqui no Brasil , Anovlar , e que continha um estrogênio sintético (150 mg ) e um derivado da progesterona ( 9,85 mg ) ,pondo em giro a revolução feminina : tirando a mulher  da intimidade do lar e colocando-a no mercado do trabalho, predominantemente masculino . Além do que levou a taxa de fecundidade a despencar de 5,8 filhos por casal para 1,8 como num passe de mágica.
Os verdadeiros pais da “ pílula “ foram a enfermeira Margareth Sanger ( 1879 – 1966 ) e o médico Gregory Pincus ( 1903 – 1967 ) .
Margareth Sanger era oriunda de uma família que gerou 11 filhos e sofreu 7 abortos . A mãe, Anne Higgins morreu de tuberculose aos 50 anos. Margareth pôs a culpa desta tragédia no pai , bem como na escassez de métodos contraceptivos eficazes . Mais adiante, Margareth cursou a faculdade de enfermagem  de Nova York , direcionando seus estudos para a área da saúde feminina . Em 1914, ela funda o jornal The Woman Rebel ( A Revolta das Mulheres ) onde cunha a expressão “ controle de natalidade “ . Àquela época se dispunha dos preservativos masculinos, do diafragma cervical, do incômodo coito interrompido e quando tudo falhava, o préstimo dos temíveis “ aborteiros ilegais “ ou “ fazedores de anjinhos “ .


Margareth Sanger fundou em 1916 a primeira clínica de planejamento familiar nos Estados Unidos e foi a primeira presidente da Federação Internacional de Planejamento Familiar. Surge nesta história, Katherine Dexter McCormick ( 1875 -1975 ) que tinha um interesse em anticoncepção e nos direitos das mulheres . Seu esposo, Stanley McCormick , um rico industrial , abriu um grave quadro de esquizofrenia , gerando no casal fortes dúvidas na construção de uma prole . Agora Margareth e Katherine, unidas, partiram para a busca de um parceiro na área da medicina  interessado em contracepção hormonal . Surgiu em 1951, o nome de Gregory Pincus , um médico , filho de judeus , formado na Universidade de Cornell com doutorado em  Harvard e pós- doutorado em Cambridge , que recebeu de Catherine uma ajuda de cerca de dois milhões de dólares para estudar em seu laboratório , contracepção hormonal . Desde 1921 já se conhecia algo como o transplante de um ovário de uma rata grávida em outra não grávida  que resultara em anovulação  e que veio à luz pelas mãos do pesquisador austríaco Ludwig Haberlandt . Em 1928, George Corner e Willard Allen , da Universidade de Rochester descobriram a progesterona . No ano seguinte, Edward Doisy , da Universidade de Washington trouxe à luz o segundo hormônio feminino , o estrogênio .  Surge em cena o químico búlgaro Carl Djerassi ( 1923 -2015 )  e Jonh Rock ( 1890 – 1984 ) , trabalhado com hormônios femininos sintéticos e que juntos formam a primeira formulação da pílula anticoncepcional a correr o mundo afora , justamente na geração pós Segunda Guerra Mundial , na época do “ sexo , drogas e rock and roll “ . Assim, na década de 60 vivemos a primeira geração da pílula, com altas doses de hormônios femininos sintéticos. Em 1970 e 1990 tivemos as segunda e terceira geração com novos fármacos e menores doses. Hoje vivenciamos nova fase com hormônios idênticos aos naturais em arranjos que buscam aperfeiçoar a segurança da pílula. Sabe-se que mais 100.000.000 de mulheres fazem uso de tal medicamento hormonal. Mesmo com formulações novas, podemos observar a presença de problemas como o desencadeamento do tromboembolismo. Em média, a cada 10.000 mulheres  , de 1 a 5 podem apresentar um episódio de trombose . Nas usuárias de pílula o número salta para 3 a 9. Entre grávidas a presença de tromboembolismo situa-se  entre 5 e 20 , a cada 10.000 gestações ,que no puerpério , pode atingir o número de 40 a 65 . Assim, neste quesito , os benefícios do uso de contraceptivos hormonais superam os possíveis riscos. Contudo, na presença de história pessoal ou familiar de fenômenos tromboembólicos convém realizar exames para verificar a possibilidade de uma trombofilia congênita ou adquirida, antes de prescrever a contracepção hormonal.
 São por demais conhecidos os benefícios da pílula anticoncepcional: redução e controle do fluxo menstrual, tratamento da dismenorreia, melhora da síndrome pré- menstrual , diminuição de cistos de ovário, redução da anemia ferropriva, combate a acne, redução de doenças benigna das mamas, e , claro, contracepção segura .   As implicações econômicas, sociais e religiosas, reverberam como uma grande onda e um incomensurável avanço científico, até os dias hodiernos.


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