SANGER E PINCUS: OS
PAIS DA PÍLULA ANTICONCEPCIONAL
Para a Dra. Silvia
Bomfim Hypollito
No dia 11 de maio de 1960, o FDA, a agência que regula os
fármacos nos Estados Unidos da América aprovou
a liberação da primeira pílula anticoncepcional , com o nome de Enovid , aqui
no Brasil , Anovlar , e que continha um estrogênio sintético (150 mg ) e um
derivado da progesterona ( 9,85 mg ) ,pondo em giro a revolução feminina :
tirando a mulher da intimidade do lar e
colocando-a no mercado do trabalho, predominantemente masculino . Além do que
levou a taxa de fecundidade a despencar de 5,8 filhos por casal para 1,8 como
num passe de mágica.
Os verdadeiros pais da “ pílula “ foram a enfermeira Margareth
Sanger ( 1879 – 1966 ) e o médico Gregory Pincus ( 1903 – 1967 ) .
Margareth Sanger era oriunda de uma família que gerou 11
filhos e sofreu 7 abortos . A mãe, Anne Higgins morreu de tuberculose aos 50
anos. Margareth pôs a culpa desta tragédia no pai , bem como na escassez de
métodos contraceptivos eficazes . Mais adiante, Margareth cursou a faculdade de
enfermagem de Nova York , direcionando seus
estudos para a área da saúde feminina . Em 1914, ela funda o jornal The Woman
Rebel ( A Revolta das Mulheres ) onde cunha a expressão “ controle de
natalidade “ . Àquela época se dispunha dos preservativos masculinos, do
diafragma cervical, do incômodo coito interrompido e quando tudo falhava, o
préstimo dos temíveis “ aborteiros ilegais “ ou “ fazedores de anjinhos “ .
Margareth Sanger fundou em 1916 a primeira clínica de
planejamento familiar nos Estados Unidos e foi a primeira presidente da
Federação Internacional de Planejamento Familiar. Surge nesta história,
Katherine Dexter McCormick ( 1875 -1975 ) que tinha um interesse em
anticoncepção e nos direitos das mulheres . Seu esposo, Stanley McCormick , um
rico industrial , abriu um grave quadro de esquizofrenia , gerando no casal
fortes dúvidas na construção de uma prole . Agora Margareth e Katherine, unidas,
partiram para a busca de um parceiro na área da medicina interessado em contracepção hormonal . Surgiu
em 1951, o nome de Gregory Pincus , um médico , filho de judeus , formado na
Universidade de Cornell com doutorado em
Harvard e pós- doutorado em Cambridge , que recebeu de Catherine uma
ajuda de cerca de dois milhões de dólares para estudar em seu laboratório ,
contracepção hormonal . Desde 1921 já se conhecia algo como o transplante de um
ovário de uma rata grávida em outra não grávida
que resultara em anovulação e que
veio à luz pelas mãos do pesquisador austríaco Ludwig Haberlandt . Em 1928,
George Corner e Willard Allen , da Universidade de Rochester descobriram a
progesterona . No ano seguinte, Edward Doisy , da Universidade de Washington
trouxe à luz o segundo hormônio feminino , o estrogênio . Surge em cena o químico búlgaro Carl Djerassi
( 1923 -2015 ) e Jonh Rock ( 1890 – 1984
) , trabalhado com hormônios femininos sintéticos e que juntos formam a
primeira formulação da pílula anticoncepcional a correr o mundo afora ,
justamente na geração pós Segunda Guerra Mundial , na época do “ sexo , drogas
e rock and roll “ . Assim, na década de 60 vivemos a primeira geração da
pílula, com altas doses de hormônios femininos sintéticos. Em 1970 e 1990
tivemos as segunda e terceira geração com novos fármacos e menores doses. Hoje
vivenciamos nova fase com hormônios idênticos aos naturais em arranjos que
buscam aperfeiçoar a segurança da pílula. Sabe-se que mais 100.000.000 de
mulheres fazem uso de tal medicamento hormonal. Mesmo com formulações novas,
podemos observar a presença de problemas como o desencadeamento do
tromboembolismo. Em média, a cada 10.000 mulheres , de 1 a 5 podem apresentar um episódio de
trombose . Nas usuárias de pílula o número salta para 3 a 9. Entre grávidas a
presença de tromboembolismo situa-se
entre 5 e 20 , a cada 10.000 gestações ,que no puerpério , pode atingir
o número de 40 a 65 . Assim, neste quesito , os benefícios do uso de
contraceptivos hormonais superam os possíveis riscos. Contudo, na presença de
história pessoal ou familiar de fenômenos tromboembólicos convém realizar
exames para verificar a possibilidade de uma trombofilia congênita ou
adquirida, antes de prescrever a contracepção hormonal.
São por demais conhecidos
os benefícios da pílula anticoncepcional: redução e controle do fluxo menstrual,
tratamento da dismenorreia, melhora da síndrome pré- menstrual , diminuição de
cistos de ovário, redução da anemia ferropriva, combate a acne, redução de
doenças benigna das mamas, e , claro, contracepção segura . As
implicações econômicas, sociais e religiosas, reverberam como uma grande onda e
um incomensurável avanço científico, até os dias hodiernos.
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