quinta-feira, 28 de abril de 2016


JORGE DE LIMA, UM SER PLURAL

 
 
Jorge de Lima, poeta parnasiano, modernista, prosador, médico, pintor, fotógrafo e político. Um belo ser humano plural que navegou por muitos mares.
Jorge Mateus de Lima veio ao mundo na cidade de União dos Palmares no estado de Alagoas no dia 23 de abril de 1893. Filho de um rico fazendeiro e comerciante pernambucano, José Mateus de Lima e de Delmira Simões de Lima. Jorge de Lima teve uma infância feliz ora numa casa-grande de engenho, ora num belo sobrado na pracinha da matriz de União dos Palmares.
No ano de 1900 transferiu-se para Maceió e estudou no Instituto Alagoano e no Colégio Diocesano de Alagoas, dos Irmãos Maristas. Em 1911 ingressou na Faculdade de Medicina de Salvador onde concluiu o curso em 1915. No mesmo ano retornou a Maceió onde iniciou sua trajetória de operoso esculápio. Em 1919 elege-se Deputado Estadual pelo Partido Republicano de Alagoas e assume a Presidência da Câmara por dois anos. O Rio de Janeiro acolhe Jorge de Lima no ano de 1930 após um atentado a sua integridade física ocasionado por divergências políticas. Seus trabalhos passaram a se dividir entre o exercício da Clínica Médica e da cátedra de Literatura Brasileira na Universidade do Brasil. Em 1944 tentou o ingresso, sem sucesso, na Academia Brasileira de Letras. Uma real perda para aquele sodalício, sem a menor dúvida.  Em 1952 participa da fundação da Sociedade Carioca de Escritores (SOCE) e tornou-se seu primeiro presidente. No dia 15 de novembro de 1953, partiu Jorge de Lima empreender sua viagem de retorno para junto às musas.
Segundo o crítico literário Afrânio Coutinho, “ Jorge de Lima é um poeta de múltiplos caminhos ,  que começou escrevendo sonetos , praticou o Modernismo descritivo e a poesia negra , incursionou pela poesia religiosa e terminou cultuando uma poesia quase abstrata , ou tirante a escrita automática” .
“ O Acendedor de Lampiões “
Lá vem o acendedor de Lampiões de rua! / este mesmo que vem, infatigavelmente, / parodiar o sol e associar- se à lua / quando a sombra da noite enegrece o poente / um , dois , três lampiões, acende e continua / outros mais a acender impertubavelmente / à medida que a noite, aos poucos , se acentua / e a palidez da lua apenas se pressente / triste ironia atroz que o senso humano irrita:/ele , que doira a noite e ilumina a cidade/talvez não tenha luz na choupana em que habita /tanta gente também nos outros insinua / crenças , religiões , amor , felicidade /como este acendedor de lampiões de rua !
“ Essa Negra Fulô “
Ora, se deu que chegou / ( isso já faz muito tempo) / num banguê do meu avô / uma negra bonitinha / chamada negra Fulô / essa negra Fulô !/ essa negra Fulô! /Ó Fulô ! Ó Fulô ! / (era a fala da Sinhá ) / - vai forrar a minha cama / pentear os meus cabelos / vem ajudar a tirar/ a minha roupa, Fulô!/essa negra Fulô / essa negrinha Fulô! / ficou logo pra mucama /pra vigiar a Sinhá / pra engomar pro Sinhô !/ essa negra Fulô!/ essa negra Fulô !/  Ó Fulô ! Ó Fulô / (era a fala da Sinhá ) /vem me ajudar , ó Fulô / vem abanar o meu corpo/que eu estou suada , Fulô !/vem coçar minha coceira /vem me catar cafuné/ vem balançar minha rede/vem me contar uma história / que eu estou com sono , Fulô !/essa negra Fulô !/” era um dia uma princesa / que vivia num castelo/ que possuía um vestido /com os peixinhos do mar /entrou na perna dum pato /saiu na perna dum pinto /o Rei- Sinhô me mandou / que vos contasse mais cinco “ /essa negra Fulô ! essa negra Fulô ! /Ó Fulô ! Ó fulô ! /vai botar pra dormir / esses meninos , Fulô !/” minha mãe me penteou/ minha madrasta me enterrou/ pelos figos da figueira/ que o sabiá beliscou “ /essa negra Fulô ! essa negra Fulô! /Ó Fulô ! Ó fulô! /(era a fala da Sinhá chamando a negra Fulô! )/ cadê meu frasco de cheiro/ que teu Sinhô me mandou ? /- Ah! Foi você que roubou !/Ah! Foi você que roubou ! / o Sinhô foi ver a negra / levar couro do feitor / a negra tirou a roupa / o Sinhô disse : Fulô!/( a vista se escureceu que nem a negra Fulô ) /essa negra Fulô ! / essa negra Fulô ! /cadê meu lenço de rendas/ cadê meu cinto , meu broche /cadê o meu terço de ouro / que teu Sinhô me mandou ?/ah ! foi você que roubou ! ah ! foi você que roubou ! / essa negra Fulô ! essa negra Fulô! / o Sinhô foi açoitar /sozinho a negra Fulô / a negra tirou a saia /e tirou o cabeção / de dentro dele pulou/ minha negra Fulô / essa negra Fulô ! / essa negra Fulô! /Ó fulô ! Ó fulô ! /,  cadê ,cadê teu Sinhô / que Nosso Senhor me mandou ?/ Ah ! foi você que roubou / foi você , negra Fulô ?/ essa negra Fulô !
 
 
 

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