JORGE DE LIMA, UM SER
PLURAL
Jorge de Lima, poeta parnasiano, modernista, prosador,
médico, pintor, fotógrafo e político. Um belo ser humano plural que navegou por
muitos mares.
Jorge Mateus de Lima veio ao mundo na cidade de União dos
Palmares no estado de Alagoas no dia 23 de abril de 1893. Filho de um rico
fazendeiro e comerciante pernambucano, José Mateus de Lima e de Delmira Simões
de Lima. Jorge de Lima teve uma infância feliz ora numa casa-grande de engenho,
ora num belo sobrado na pracinha da matriz de União dos Palmares.
No ano de 1900 transferiu-se para Maceió e estudou no
Instituto Alagoano e no Colégio Diocesano de Alagoas, dos Irmãos Maristas. Em
1911 ingressou na Faculdade de Medicina de Salvador onde concluiu o curso em 1915.
No mesmo ano retornou a Maceió onde iniciou sua trajetória de operoso esculápio.
Em 1919 elege-se Deputado Estadual pelo Partido Republicano de Alagoas e assume
a Presidência da Câmara por dois anos. O Rio de Janeiro acolhe Jorge de Lima no
ano de 1930 após um atentado a sua integridade física ocasionado por
divergências políticas. Seus trabalhos passaram a se dividir entre o exercício
da Clínica Médica e da cátedra de Literatura Brasileira na Universidade do
Brasil. Em 1944 tentou o ingresso, sem sucesso, na Academia Brasileira de
Letras. Uma real perda para aquele sodalício, sem a menor dúvida. Em 1952 participa da fundação da Sociedade
Carioca de Escritores (SOCE) e tornou-se seu primeiro presidente. No dia 15 de
novembro de 1953, partiu Jorge de Lima empreender sua viagem de retorno para
junto às musas.
Segundo o crítico literário Afrânio Coutinho, “ Jorge de
Lima é um poeta de múltiplos caminhos , que
começou escrevendo sonetos , praticou o Modernismo descritivo e a poesia negra
, incursionou pela poesia religiosa e terminou cultuando uma poesia quase
abstrata , ou tirante a escrita automática” .
“ O Acendedor de Lampiões “
Lá vem o acendedor de Lampiões de rua! / este mesmo que vem,
infatigavelmente, / parodiar o sol e associar- se à lua / quando a sombra da
noite enegrece o poente / um , dois , três lampiões, acende e continua / outros
mais a acender impertubavelmente / à medida que a noite, aos poucos , se
acentua / e a palidez da lua apenas se pressente / triste ironia atroz que o
senso humano irrita:/ele , que doira a noite e ilumina a cidade/talvez não
tenha luz na choupana em que habita /tanta gente também nos outros insinua /
crenças , religiões , amor , felicidade /como este acendedor de lampiões de rua
!
“ Essa Negra Fulô “
Ora, se deu que chegou / ( isso já faz muito tempo) / num
banguê do meu avô / uma negra bonitinha / chamada negra Fulô / essa negra Fulô
!/ essa negra Fulô! /Ó Fulô ! Ó Fulô ! / (era a fala da Sinhá ) / - vai forrar
a minha cama / pentear os meus cabelos / vem ajudar a tirar/ a minha roupa,
Fulô!/essa negra Fulô / essa negrinha Fulô! / ficou logo pra mucama /pra vigiar
a Sinhá / pra engomar pro Sinhô !/ essa negra Fulô!/ essa negra Fulô !/ Ó Fulô ! Ó Fulô / (era a fala da Sinhá ) /vem
me ajudar , ó Fulô / vem abanar o meu corpo/que eu estou suada , Fulô !/vem
coçar minha coceira /vem me catar cafuné/ vem balançar minha rede/vem me contar
uma história / que eu estou com sono , Fulô !/essa negra Fulô !/” era um dia
uma princesa / que vivia num castelo/ que possuía um vestido /com os peixinhos
do mar /entrou na perna dum pato /saiu na perna dum pinto /o Rei- Sinhô me
mandou / que vos contasse mais cinco “ /essa negra Fulô ! essa negra Fulô ! /Ó
Fulô ! Ó fulô ! /vai botar pra dormir / esses meninos , Fulô !/” minha mãe me
penteou/ minha madrasta me enterrou/ pelos figos da figueira/ que o sabiá
beliscou “ /essa negra Fulô ! essa negra Fulô! /Ó Fulô ! Ó fulô! /(era a fala
da Sinhá chamando a negra Fulô! )/ cadê meu frasco de cheiro/ que teu Sinhô me
mandou ? /- Ah! Foi você que roubou !/Ah! Foi você que roubou ! / o Sinhô foi
ver a negra / levar couro do feitor / a negra tirou a roupa / o Sinhô disse :
Fulô!/( a vista se escureceu que nem a negra Fulô ) /essa negra Fulô ! / essa
negra Fulô ! /cadê meu lenço de rendas/ cadê meu cinto , meu broche /cadê o meu
terço de ouro / que teu Sinhô me mandou ?/ah ! foi você que roubou ! ah ! foi
você que roubou ! / essa negra Fulô ! essa negra Fulô! / o Sinhô foi açoitar
/sozinho a negra Fulô / a negra tirou a saia /e tirou o cabeção / de dentro
dele pulou/ minha negra Fulô / essa negra Fulô ! / essa negra Fulô! /Ó fulô ! Ó
fulô ! /, cadê ,cadê teu Sinhô / que
Nosso Senhor me mandou ?/ Ah ! foi você que roubou / foi você , negra Fulô ?/
essa negra Fulô !
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