CARNAVAL, AI VONTADE
DE CHORAR
“ Confete/ pedacinho colorido de saudade/ai, ai, ai, ai/ ao
te ver na fantasia que usei/ confete, confesso que chorei/chorei, porque
lembrei /do carnaval que passou/ daquela colombina que comigo brincou! /ai, ai,
confete ,/ saudade do amor que se acabou “
O tríduo momino tomando corpo joga em meu cansado colo uma
densa névoa de saudade, e volto a minha infância nos idos de cinquenta do
século passado na rua Rodrigues Junior, esquina com rua Pero Coelho. Madrugada
adentro de uma quarta – feira de cinzas, uma prosaica figura negra sentada na
coxia, soluçava uma melodia que até hoje reverbera em minha memória (Banana Boat
Song):
“ Dia, eu digo que dia / o dia amanhece e quero ir para casa
/ trabalhei a noite toda/ bebendo rum /vamos, senhor registrador / me registra
uma banana / são, sete, oito cachos / um lindo cacho maduro de banana/esconde a
tarântula negra mortal/dia, eu digo que dia /”.
Ao terminar aquele lamento o tal gigante de ébano, desaba
com a cabeça entre as pernas e chora baixinho em meio a vômitos, defronte ao
Quartel General da Folia, onde comandava o Rei Momo Luisão Primeiro e Único.
Tinha o cantor naquela hora como única companhia um bichano notívago que
ingeria com fremente gula aquele pasto gratuito e asqueroso.
Fechei, nauseado, o postigo devagar e fui me enroscar no
aconchego morno na cama de meus pais com medo de um belo carão! .
Quem seria aquela pobre criatura de Deus? Não sei, mas até o
fim de meus dias o triste lamento segue meus passos, imprimindo a certeza da
falsa alegria do carnaval, a despeito daquilo que se vê hoje, com aquele mar
luxuriante de bundas, seios, celulites e estrias a granel .
“ A estrela d’alva no céu desponta / e a lua anda tonta com
tamanho esplendor/ e as pastorinhas/ para consolo da lua / vão cantando nas
ruas lindos versos de amor/ linda pastora morena da cor de Madalena/ tu não
tens pena de mim /que vivo tonto com o teu olhar/ linda criança tu não me sais
da lembrança / meu coração não se cansa/ de sempre, sempre te amar “
Ôxente ! Viva Zé Pereira! .
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