terça-feira, 14 de outubro de 2025

 Fernando Pessoa - Mar e Poesia

" Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa : - Navegar é preciso; viver não é preciso . Quero para mim o espírito desta frase , transformada a forma para a casar como que eu sou : Viver não é necessário; o que é necessário é criar .
Não conto gozar a minha vida ; nem em gozá- lá penso . Só quero torná - la grande , ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a ( minha alma ) a lenha desse fogo .
Só quero torná - la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso . Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar,
Sem nada já que me atraia , nem nada que desejar , farei um sonho , terei meu dia , fecharei a vida , e nunca terei agonia , pois dormirei de seguida .
A vida é como uma sombra que passa por sobre um rio
Ou como um passo de alfombra de um quarto que jaz vazio ;
O amor é como um sono que chega para o pouco ser que se é;
A glória concede e nega : não tem verdades a fé.
Por isso na orla morena da praia calada e só, tenho a alma feita pequena, livre de magia e de dó ;
Sonho sem quase já ser, perco sem nunca ter tido ,
E comecei a morrer antes de ter vivido " .
Fernando Antônio Nogueira Pessoa , nasce em 13 de junho de 1888 , e falece em 30 de novembro de 1934 . Um gênio da literatura portuguesa.

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