A Estátua que Caiu de Pé

Naquele entardecer de 16 de fevereiro de 1892 , depois das 5 horas, Fortaleza estava presa de um verdadeiro pânico. Nas ruas , ia o movimentar de tropas , num vaivém desencontrado , numa correria nervosa.

Os raros transeuntes procuravam saber o que havia de verdade sobre os acontecimentos . O ambiente mostrava - se carregado. E uma tempestade em perspectiva ensaiava - se tremenda .

Logo mais , lá para as bandas do bairro da Aldeota , começaram a encher os ares de estampidos, secos e surdos , das balas. A princípio, esparsamente. Depois , mais intenso . Por cima das casas , simulavam lugubremente os balaços, assobiando uma música triste . Em breve , o bombardeio fez - se ensurdecedor, tenebroso, terrífico, ouvindo - se o estrondo dos canhões.

Informava - se vagamente que os cadetes da Escola Militar do Ceará haviam se revoltado, abandonando o quartel e marchavam para a cidade , em demanda da Praça General Tibúrcio, onde se localizava o Palácio do Governo , com o intuito de promover a deposição do Governador José Clarindo de Queirós.

Dentro de poucas horas, alguns tiros de canhão atingiram a praça onde se erguia a estátua do bravo general da Guerra do Paraguai, fronteiriça ao Palácio.

Numa das sacadas do Palácio, inesperadamente , tremula , melancólica, uma bandeira branca , beijada pela claridade vermelha do dia que começava.

O Governador José Clarindo de Queirós rendia - se impotente aos cadetes vitoriosos , passando o governo ao comando da guarnição , Coronel José Freire Bezerril Fontenele . No largo em frente , a estátua do General Antônio Tibúrcio, o bravo dos

campos do Paraguai, tombara , curiosamente , do seu pedestal , atingido em cheio por um balaço perdido. Caira, porém , de pé ! O intrépido soldado , que tanto elevara o nome da sua Pátria , ainda mesmo feito estátua , prostara - se herói, resistindo , valentemente, ao terrível tiroteio daquela noite de revolta .

Crônica " A estátua que caiu de pé " ,da autoria de Raimundo de Menezes ( 1903 - 1984 ) : jornalista e escritor cearense .

" Silent... leges inter arma " ( Em meio às armas as leis se calam ) , ou ainda : onde há força, direito se perde .

" Si vis pacem , para bellum " ( Se queres a paz , prepara a guerra ).

5Mary Romero, Dirceu Azevedo Vasconcelos e outras 3 pessoas

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