Nem Ícaro Nem Sísifo
Escalar a íngreme e tortuosa montanha da vida até o seu ápice, escrutinando passo a passo , todas as estações naquilo que a natureza e Deus nos proporcionam , constitui tarefa afeita a todo ser humano. Exige - se , para isso , árduo trabalho ( Mito de Sísifo) , e sabedoria ( Mito de Ícaro) , não esquecendo que nem tanto à terra nem tanto ao céu.
Ícaro, filho Dédalo , um famoso inventor grego , em certa ocasião, encontrava - se prisioneiro junto a seu pai. A fuga não podia se concretizar nem pelo mar , nem pela terra , que eram dominados pelo Rei Minos. Dédalo imaginou , então, uma fuga pelos ares juntando a pena de pássaros e colando - as com cera de abelhas. Instruiu severamente a seu filho, Ícaro, para que não se aproximasse em demasia do sol pelo risco do calor derreter a cera que lhe colava as asas. Era a velha sabedoria mostrando que nem o sol e tampouco a morte devem ser em encarados de perto.
No entanto o vôo baixo próximo à umidade do mar deveria ser evitado , posto que iria encharcar as penas e favorecer a uma queda inevitável.
Sísifo, um pastor de ovelhas, filho de Éolo, o deus dos ventos , sofreu uma severa punição do deus Zeus que o condenou a rolar montanha acima um pesado seixo de pedra , num inútil trabalho, posto que , lá no alto chegando , exausto , não conseguia segurar a pedra que voltava até o fundo da planície. A mesma sina todos os dias. Um martírio.
A vida não pode se reduzir a este simples absurdo como defendem alguns existencialistas . O trabalho sendo um objeto ( tripalium ) de tortura medieval e a certeza da morte removendo toda a beleza do caminhar nas muitas veredas a serem percorridas.
Vale a pena carregar estoicamente o fardo da vida, montanha acima , enfrentando rigores e perigos, gozando mais no levantar que no cair.
Uma vez chegando no vértice da montanha , mesmo que o pesado seixo venha a rolar ladeira abaixo , seguir em frente , curtindo o ambiente arejado do momento a ser compartilhado. Dali, geralmente , se saboreia a contento todas delícias mundanas.
E um dia , enfim , dar início com cuidado e zelo à descida obrigatória das escarpas da montanha da vida rumo à planície ao rés do chão, apoiado em seu cajado e nas muitas vivências que o sofrimento e o gozo lhes proporcionaram. E ter plena consciência de um dia ser amorosamente acolhido ao seio da mãe - natureza misturando - se à poeira das estrelas e seguir ao definitivo encontro gozoso com o Pai.
Que assim seja !
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