Em Todos os Jardins
" Em Todos os jardins hei - de florir,
Em todos beberei a lua cheia,
Quando enfim no meu fim eu possuir
Todas as praias onde o mar ondeia.
Um dia serei eu o mar e a areia,
A tudo quanto existe me hei - de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia se há- de abrir.
Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta
Conhecido por mim como num beijo .
Então serei o rítmo das paisagens ,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens.
Vi florestas e danças e tormentos,
Cantavam rouxinóis e uivavam ventos
Nos céus atravessados por cometas.
Vi luz a pique sobre faces nuas,
Vi olhos que eram como fundas luas
Magnéticas suspensas sobre o mar.
Vi poentes em sangue alucinados
Onde os homens e as sombras se cruzavam
Em gestos desmedidos, mutilados.
Levada por fantásticos caminhos
Atravessei países vacilantes,
E nas encruzilhadas riam anjos
Inconscientes e puros como estrelas ."
Poema " Em Todos os Jardins " da autoria de Sophia de Mello Breyner Andresen ( 1919 - 2004 ), nascida na cidade de Porto , Portugal.
Uma das mais belas vozes do lirismo português .
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