Ladrões
"Navegava Alexandre ( Magno) em sua poderosa armada pelo mar Eritreu ( Vermelho ) a conquistar a Índia, e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu - o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém ele , que não era medroso nem lerdo, respondeu assim : Basta, senhor que eu, porque roubo em minha barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em sua armada , sois Imperador ? Assim é. O roubar pouco é culpa , o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito , os Alexandres. ...
Diógenes ( 413 - 327 a.C) , que tudo via com mais aguda vista que os outros homens , viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos ! Ditosa Grécia que tinha tal pregador ! E mais ditosas outras nações , se nelas não padecera a justiça as mesmas afrontas. Quantas vezes se viu em Roma ir a enforcar um ladrão por ter roubado um carneiro; e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul, ou ditador, por ter roubado uma província. E quantos ladrões teriam enforcado estes mesmos ladrões triunfantes ?"
Excertos da crônica Ladrões, de autoria de Padre Antônio Vieira ( 1608 - 1697
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