segunda-feira, 11 de junho de 2018

O Juramento de Amato Lusitano
Para o Dr. Florentino Cardoso
" Juro perante Deus imortal e pelos seus dez santíssimos sacramentos, dados no Monte Sinai ao Povo Hebreu, por intermédio de Moisés, após o cativeiro no Egito, que na minha clínica nunca tive mais a peito do que promover que a Fé intacta das coisas chegasse ao conhecimento dos vindouros.
Nada fingi, acrescentei ou alterei em minha honra ou que não fosse em benefício dos mortais.
Nunca lisonjeei, nem censurei ninguém ou fui indulgente com quem quer fosse por motivo de amizades particulares;
Sempre em tudo exigi a verdade;
Se sou perjuro, caia sobre mim a ira do Senhor e de Rafael seu Ministro e ninguém mais tenha confiança no exercício da minha arte;
Quanto a honorários, que se costuma dar aos médicos, também fui sempre parcimonioso no pedir, tendo tratado muita gente com mediana recompensa e muita outra gratuitamente.
Muitas vezes rejeitei firmemente grandes salários, tendo sempre mais em vista que os doentes por minha intervenção recuperassem a saúde do que tornar-me mais rico pela sua liberalidade ou pelos seus dinheiros;
Para tratar os doentes, jamais cuidei de saber se eram hebreus, cristãos, ou sequazes da Lei Maometana;
Nunca provoquei a doença;
Nos prognósticos sempre disse o que sentia;
Não favoreci um farmacêutico mais do que outro, a não ser quando nalgum reconhecia, por ventura, mais perícia na arte e mais bondade no coração, porque então o preferia aos demais;
Ao receitar sempre atendi às possibilidades pecuniárias do doente, usando de relativa ponderação nos medicamentos prescritos;
Nunca divulguei o segredo a mim confiado.
Nunca a ninguém propinei poção venenosa;
Com minha intervenção nunca foi provocado o aborto;
Nas minhas consultas e visitas médicas femininas nunca pratiquei a menor torpeza;
Em suma, jamais fiz coisa de que me envergonhar de um Médico preclaro e egrégio.
Sempre tive diante dos olhos, para os imitar, os exemplos de Hipócrates e Galeno, os Pais da Medicina , não desprezando as Obras Monumentais de alguns outros excelentes Mestres na Arte Médica;
Fui sempre diligente no estudo e, por tal forma, que nenhuma ocupação ou circunstância, por mais urgente que fosse, me desviou da leitura dos outros autores;
Nem o prejuízo dos interesses particulares, nem as viagens por mar, nem as minhas pequenas deambulações por terra, nem por fim o próprio exílio, me abalaram a alma, como convém ao Homem Sábio ;
Os discípulos que até hoje tenho tido, em grande número e em lugar dos filhos , tenho educado, sempre os ensinei muito sinceramente a que se inspirassem nos exemplos dos bons;
Os meus livros de Medicina nunca os publiquei com outra ambição que não fosse o contribuir de qualquer modo para a saúde da Humanidade ;
Se o consegui, deixo a resposta ao julgamento dos outros, na certeza de que tal foi sempre a minha intenção e o maior de meus desejos ".
João Rodrigues Amato Lusitano, eminente médico português do século XVI , um verdadeiro homem representante do Renascimento.

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