O Bruxo do Cosme Velho, por ele mesmo
" Se a velhice quer dizer cabelos brancos , se a mocidade quer dizer ilusões frescas, não sou velho nem moço. Realizo literalmente a expressão francesa : Un homme entre deux âges. Estou tão longe da infância como da decrepitude; não anseio pelo futuro , mas também não choro pelo passado... Não privo com as musas , mas gosto delas. Leio por instruir-me ; às vezes por consolar-me. Creio nos livros e adoro-os. Ao domingo leio as Santas Escrituras; os outros dias são divididos por meia dúzia de poetas e prosadores da minha predileção; consagrou a sexta-feira à Constituição do Brasil , e o sábado aos manuscritos que me dão para ler. Quer tudo isso dizer que à sexta-feira admiro os nossos maiores, e ao sábado durmo a sono solto. No tempo das câmaras leio com frequência o padre Vieira e o padre Bernardes, dois grandes mestres.
Quanto às minhas opiniões públicas, tenho duas, uma impossível, outra realizada. A impossível é a República de Platão. A realizada é o sistema representativo. É sobretudo como brasileiro que me agrada esta última opinião, e eu peço aos deuses ( também creio nos deuses ) que afastem do Brasil o sistema republicano porque esse dia seria o do nascimento da mais insolente aristocracia que o sol jamais alumiou...
Aqui estão os principais traços da minha pessoa. Não direi a V. Excia, se tomo sorvetes, nem se fumo charutos de Havana; são ridiculezas que não deviam entrar no espírito da opinião pública "
" Em nosso país a vulgaridade é um título, a mediocridade um brasão "
Machado de Assis ( 1839 - 1908 ) : cronista, contista, jornalista, novelista, poeta, romancista e critico literário. Bruxo do Cosme Velho , faz referência à casa de número 18 da Rua Cosme Velho , onde morava o memorável escritor brasileiro e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.
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