quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O TEMPO FOGE



“Tempus fugit “ (o tempo foge, o tempo se escapa, o tempo voa), é uma referência à passagem rápida do tempo, a vida num piscar d’olhos, em um verso de autoria do poeta latino Virgílio (70 a.C.– 19 a.C.) e que traz alguma semelhança com o “ Carpe diem “ (aproveita o tempo) do também poeta latino Horácio (65 a.C.-- 8 a.C.).

“ O ser oscila ao toque da luz. Ao meio-dia o céu é um lago – espelho de ágata azul. Nada se move. O tempo não existe. Tudo é eterno. Ao crepúsculo, entretanto, o lago imóvel se transforma num rio. Rapidamente as cores se sucedem, o azul vira amarelo, o amarelo passa ao verde, ao rosa , ao laranja, ao vermelho, ao roxo para, finalmente, mergulhar em cachoeira no negro da noite. Tempus fugit “.           Rubem Alves (1933 – 2014)

“ Eternidade não é tempo sem fim. Tempo sem fim é insuportável. Já imaginaram uma música sem fim, um beijo sem fim, um livro sem fim? Tudo o que é belo tem de morrer. Beleza e morte andam sempre de mãos dadas “.    Rubem Alves (1933 – 2014)

O estar vivo sempre representa um perigo, ou dito de outro modo, viver implica correr riscos. Nesta jornada de longo calibre alguns afoitos formam um pelotão destacado dos demais, daqueles mais mansos que sorvem aos poucos os prazeres das pequeninas alegrias. O lema para os apressados reza que “ a vida é ousada, ou nada “, sendo válido atropelar a ordem natural dos eventos onde pai morre, filho morre e neto morre.
Uma infindável lista de figuras públicas   afinadas “ com esta pressa de viver e arriscar tudo de novo com paixão. Andar caminho errado pela simples alegria de ser “ (Belchior, em Coração Selvagem), a toda hora se adensa, lá e cá:
Janis Joplin (27 anos); Jimmy Hendrix (27 anos); James Dean (24 anos); Marilyn Monroe (36 anos); Brian Jones (27 anos); Jim Morrison (27 anos); Bruce Lee (32 anos); Michael Jackson (51 anos); Prince (58 anos); Ian Curtis (23 anos); John Lennon (40 anos) ; Kurt Cobain (27 anos); George Michael (53 anos).

Ellis Regina (36 anos); Dolores Duran (29 anos); Cazuza (36 anos); Renato Russo (36 anos); Maysa Matarazzo (40 anos); Cássia Eller (39 anos); Raul Seixas (44 anos).

Do maluco beleza, Raul Seixas , em parceria com Paulo Coelho segue um melancólico “ Canto para a minha morte “:

“ Eu sei que determinada rua que eu já passei / não tornará a ouvir o som dos meus passos /tem uma revista que eu guardo há muitos anos / e que nunca mais vou abrir ./ cada vez que eu me despeço de uma pessoa / pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez /a morte, surda , caminha a meu lado /e eu não sei em que esquina ela vai me beijar / com que rosto ela virá ?/

será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer ?/ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque ?/na música que deixei para compor amanhã ?/será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro ?/ virá antes de eu encontrar a mulher , a mulher que me foi destinada ,/ e que está em algum lugar me esperando / embora eu ainda não a conheça ?/vou te encontrar vestida de cetim,/pois em qualquer lugar esperas só por mim/e no teu beijo provar o gosto estranho/ que eu quero e não desejo , mas tenho que encontrar/vem , mas demore a chegar/eu detesto e amo morte , morte , morte / que talvez seja o segredo desta vida /morte , morte , morte que talvez seja o segredo desta vida /qual será a forma da minha morte ?/uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida /existem tantas.. um acidente de carro./ o coração que se recusa a bater no próximo minuto/ a anestesia mal aplicada ,/a vida mal vivida , a ferida mal curada , a dor já envelhecida/o câncer já espalhado e ainda escondido ou até quem sabe,/um escorregão idiota , num dia de sol, a cabeça no meio-fio.../oh morte!, tu que és tão forte ,/que matas o gato , o rato e o homem/ vista- se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar/que meu corpo seja cremado/e que minhas cinzas alimentem a erva/ e que a erva alimente outro homem como eu /porque eu continuarei neste homem,/nos meus filhos, na palavra rude/ que eu disse para alguém que não gostava/e até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite.../vou te encontrar vestida de cetim ,/pois em qualquer lugar esperas só por mim / e no teu beijo provar o gosto estranho/ que eu quero e não desejo , mas tenho que encontrar / vem , mas demore a chegar./eu te detesto e amo , morte, morte ,/ que talvez seja o segredo desta vida /morte , morte, morte que talvez seja o segredo desta vida “          




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