O TEMPO FOGE
“Tempus fugit “ (o tempo foge, o tempo se escapa, o tempo
voa), é uma referência à passagem rápida do tempo, a vida num piscar d’olhos, em
um verso de autoria do poeta latino Virgílio (70 a.C.– 19 a.C.) e que traz
alguma semelhança com o “ Carpe diem “ (aproveita o tempo) do também poeta
latino Horácio (65 a.C.-- 8 a.C.).
“ O ser oscila ao toque da luz. Ao meio-dia o céu é um lago
– espelho de ágata azul. Nada se move. O tempo não existe. Tudo é eterno. Ao
crepúsculo, entretanto, o lago imóvel se transforma num rio. Rapidamente as
cores se sucedem, o azul vira amarelo, o amarelo passa ao verde, ao rosa , ao
laranja, ao vermelho, ao roxo para, finalmente, mergulhar em cachoeira no negro
da noite. Tempus fugit “. Rubem
Alves (1933 – 2014)
“ Eternidade não é tempo sem fim. Tempo sem fim é
insuportável. Já imaginaram uma música sem fim, um beijo sem fim, um livro sem
fim? Tudo o que é belo tem de morrer. Beleza e morte andam sempre de mãos dadas
“. Rubem Alves (1933 – 2014)
O estar vivo sempre representa um perigo, ou dito de outro
modo, viver implica correr riscos. Nesta jornada de longo calibre alguns
afoitos formam um pelotão destacado dos demais, daqueles mais mansos que sorvem
aos poucos os prazeres das pequeninas alegrias. O lema para os apressados reza
que “ a vida é ousada, ou nada “, sendo válido atropelar a ordem natural dos
eventos onde pai morre, filho morre e neto morre.
Uma infindável lista de figuras públicas afinadas “ com esta pressa de viver e
arriscar tudo de novo com paixão. Andar caminho errado pela simples alegria de
ser “ (Belchior, em Coração Selvagem), a toda hora se adensa, lá e cá:
Janis Joplin (27 anos); Jimmy Hendrix (27 anos); James Dean
(24 anos); Marilyn Monroe (36 anos); Brian Jones (27 anos); Jim Morrison (27
anos); Bruce Lee (32 anos); Michael Jackson (51 anos); Prince (58 anos); Ian
Curtis (23 anos); John Lennon (40 anos) ; Kurt Cobain (27 anos); George Michael
(53 anos).
Ellis Regina (36 anos); Dolores Duran (29 anos); Cazuza (36
anos); Renato Russo (36 anos); Maysa Matarazzo (40 anos); Cássia Eller (39
anos); Raul Seixas (44 anos).
Do maluco beleza, Raul Seixas , em parceria com Paulo Coelho
segue um melancólico “ Canto para a minha morte “:
“ Eu sei que determinada rua que eu já passei / não tornará
a ouvir o som dos meus passos /tem uma revista que eu guardo há muitos anos / e
que nunca mais vou abrir ./ cada vez que eu me despeço de uma pessoa / pode ser
que essa pessoa esteja me vendo pela última vez /a morte, surda , caminha a meu
lado /e eu não sei em que esquina ela vai me beijar / com que rosto ela virá
?/
será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer ?/ou será que ela
vai me pegar no meio do copo de uísque ?/na música que deixei para compor
amanhã ?/será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro ?/ virá antes
de eu encontrar a mulher , a mulher que me foi destinada ,/ e que está em algum
lugar me esperando / embora eu ainda não a conheça ?/vou te encontrar vestida
de cetim,/pois em qualquer lugar esperas só por mim/e no teu beijo provar o
gosto estranho/ que eu quero e não desejo , mas tenho que encontrar/vem , mas
demore a chegar/eu detesto e amo morte , morte , morte / que talvez seja o
segredo desta vida /morte , morte , morte que talvez seja o segredo desta vida /qual
será a forma da minha morte ?/uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida
/existem tantas.. um acidente de carro./ o coração que se recusa a bater no
próximo minuto/ a anestesia mal aplicada ,/a vida mal vivida , a ferida mal
curada , a dor já envelhecida/o câncer já espalhado e ainda escondido ou até
quem sabe,/um escorregão idiota , num dia de sol, a cabeça no meio-fio.../oh
morte!, tu que és tão forte ,/que matas o gato , o rato e o homem/ vista- se
com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar/que meu corpo seja cremado/e
que minhas cinzas alimentem a erva/ e que a erva alimente outro homem como eu
/porque eu continuarei neste homem,/nos meus filhos, na palavra rude/ que eu
disse para alguém que não gostava/e até no uísque que eu não terminei de beber
aquela noite.../vou te encontrar vestida de cetim ,/pois em qualquer lugar
esperas só por mim / e no teu beijo provar o gosto estranho/ que eu quero e não
desejo , mas tenho que encontrar / vem , mas demore a chegar./eu te detesto e
amo , morte, morte ,/ que talvez seja o segredo desta vida /morte , morte,
morte que talvez seja o segredo desta vida “
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