domingo, 10 de julho de 2016

O POETA CEARENSE JOSÉ ALBANO





“ Poeta fui e do áspero destino / senti bem cedo a mão pesada e dura / conheci mais tristeza que ventura/ e sempre andei errante e peregrino / vivi sujeito ao doce desatino/ que tanto   engana mas que pouco dura / e inda choro o rigor da sorte escura/se nas dores passadas imagino / porém, como me agora vejo isento / dos sonhos que sonhara noite e dia / e só com saudades me atormento /entendo que não tive outra alegria nem nunca outro qualquer contentamento / senão ter cantado o que sofria “ José de Abreu Albano (1882 – 1923) nasceu na cidade de Fortaleza, no estado do Ceará, no dia 12 de abril de 1822. Seus pais foram o negociante José Albano Filho e D. Maria de Abreu Albano; neto, pelo lado paterno de José Francisco da Silva Albano e de D. Maria Liberalina da Silva Albano, Barões de Aratanha. José Albano foi poeta, professor, diplomata, poliglota e vernaculista, intransigente defensor da pureza do idioma de Camões. Frequentou o Seminário Episcopal de Fortaleza nos anos de 1892 e 1893 e por não demonstrar pendores eclesiásticos foi mandado para prosseguir seus estudos na Europa, mais precisamente na Inglaterra, Áustria e França, entre 1893 e 1898. De volta à capital cearense estudou no tradicional Colégio Liceu do Ceará onde posteriormente tornou-se professor de Latim. Transferiu-se para o Rio de Janeiro onde integrou o Ministério das Relações Exteriores, até ser transferido para Londres, servindo ao consulado brasileiro (1908 – 1912). José Albano casou-se com D. Gabriela da Rocha e constituiu a seguinte prole: José Maria e Teófilo, mortos na infância, Maria José, Ângelo e Maria Justina. No ano de 1912 o irrequieto poeta cearense largou o emprego público e iniciou uma peregrinação pelas seguintes paragens: Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Hungria , Suíça , Itália , Romênia e Egito.  Regressou ao Brasil por motivos de doença no ano de 1914 e após três anos de rigoroso tratamento partiu novamente para Paris, falecendo cinco anos depois, no dia 11 de julho de 1923, aos 41 anos de idade. O escritor Mário de Alencar (1872-1925), filho do maior nome das letras do Ceará, José de Alencar (1829- 1877), assim descreve a figura do grande vate cearense:  “ Barbas densas e grandes de rabi, cenho repuxado pelo monóculo retangular, olhos incisivos que olhavam um pouco do alto e de esguelha, davam-lhe do rosto, viril e bem afeiçoado, uma expressão antipática; o molde da roupa, o chapéu luso e desabado, o andar, as maneiras, completavam a estranheza da figura, que a muitos parecia excêntrica. Conversando, sentia- se -lhe o orgulho, gerado por desdém e descontentamento dos homens e das cousas, do meio e do tempo. Criticava a todos e a tudo, mas sem inveja, sem vaidade, apenas porque todos e tudo não lhe respondiam ao gosto e ao ideal. A sua sensibilidade chocava- se com a natureza brasileira; e aborrecia –lhe o presente por falta de perspectiva”. “ Há no meu peito uma porta / a bater continuamente;/ dentro a esperança jaz morta /e o coração jaz doente /em toda parte onde eu ando /ouço este ruído infindo /são as tristezas entrando e as alegrias saindo “. José Albano publicou: Rimas de José Albano – Alegoria (1912); Rimas de José Albano – Redondilhas (1912) ; Rimas de José Albano – Canção a Camões e Ode à Língua Portuguesa ( 1912 ) ; Comédia Angélica de José Albano ( 1918 ) e Four Sonnets With Portuguese Prose Translation ( 1918 ) . O poeta pernambucano Manoel Bandeira (1948) e o escritor cearense Braga Montenegro (1966) publicaram “ Rimas de José Albano “ de forma definitiva enfeixando toda a rica produção do grande poeta cearense num só volume .

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