Estouro da Boiada , 2022
" Já vistes o estouro da boiada ? Vai o gado em sua estrada mansamente, chá e larga , batida e tranquila, ao tom monótono dos eias ! dos vaqueiros . Caem as patas no chão em bulha compassada . Na vaga doçura dos olhos dilatados , transluz a inconsciente resignação das alimárias, oscilantes as cabeças, pendentes à margem dos perigalhos , as aspas no ar em silva rasteira sobre o dorso da manada . Dir - se - ia a paciência em marcha abstrata de si mesma , ao tilintar dos chocalhos , em pachorrenta andadura , espetada automaticamente pela vara dos boiadeiros . Eis senão quando , não se atina porque , a um acidente mínimo, um bicho inofensivo que passa a fugir , o grito de um pássaro na capoeira , estalido de uma rama no arvoredo, se sobressalta uma das reses , abala , desfecha a correr , e após ela se arremessa em doida arrancada , atropeladamente , o gado todo. Nada mais o reprime . Nem brados , nem aguilhadas o detém, nem tropeços, voltas ou barrancos por davante. E lá vai , incessantemente , o pânico em desfilada , como se os demônios o tangessem , léguas e léguas, até que , exausto o alento , esmorece e cessa afinal a carreira , como começou, pela cessação de seu impulso ".
O Estouro da Boiada , texto da autoria de Rui Barbosa ( 1849 - 1923 ) , o grande jurista , jornalista , político, orador e diplomata baiano.
E hoje , em certas comunidades de uma república de bananas , um Carnaval fora de época e desmiolado , apocalíptico, apoiado por alguns descompromissados setores da mídia, " comitês de araque " , carnavalescos , e certa rede hoteleira , dentre outros , ébrios e de braços dados com o " vírus diabólico espiculado " redesenham um novo Baile da Ilha Fiscal " , versão 2022 , e claro , sem máscaras, sem álcool- gel , sem distanciamento social , do jeito que o diabo gosta !
E , queima rapaziada !
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