Violões Que Choram...
""Ah! plangentes violões dormentes, mornos,
Soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.
Noites de além, remotas, que eu recordo,
Noites da solidão, Noites remotas
Que nos azuis da Fantasia bordo,
Vou constelando de visões ignotas.
Sutis palpitações à luz da lua,
Anseio dos momentos mais saudosos,
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos violões chorosos.
Quando os sons dos violões vão soluçando,
Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras tremem.
Harmonias que pungem , que laceram,
Dedos nervosos e ágeis que percorrem
Cordas e um mundo de dolências geram
Gemidos, prantos, que no espaço morrem...
E sons soturnos, suspiradas mágoas,
Mágoas amargas e melancolias,
No sussurro monótono das águas,
Noturnamente, entre ramagens frias.
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
Tudo nas cordas dos violões ecoa
E vibra e se contorce no ar , convulso...
Tudo na noite, tudo clama e voa
Sob a febril agitação de um pulso.
Que esses violões nevoentos e tristonhos
São ilhas de degredo atroz, funéreo,
Para onde vão, fatigadas do sonho,
Almas que se abismaram no mistério. "
Um dos mais belos poemas de João da Cruz e Sousa (1862 - 1898), catarinense , e principal representante do movimento simbolista brasileiro, considerado o "Dante Negro".
Filho de ex - escravos, teve sua educação patrocinada pelo coronel Xavier de Sousa.
Casou- se com Gavita Gonçalves em 1893 e com ela teve 4 filhos , dos quais 2 foram cedo levados pela tuberculose.
Cruz e Sousa morreu aos 36 anos , consumido pela Peste Branca, a tuberculose.
Obras publicadas em vida : " Missal" , e, "Broquéis ".
Ilustra a matéria: " Mulher com Guitarra " , da autoria de Pierre - Auguste Renoir ( 1841 - 1919 ) , do movimento impressionista.
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