A Flor e a Fonte
"Deixa - me, fonte!"Dizia/A flor, tonta de terror./E a fonte, sonora e fria,/Cantava, levando a flor./"Deixa - me, deixa - me, fonte!"/Dizia a flor a chorar: /Eu fui nascida no monte.../"Não me leves para o mar"/E a fonte, rápida e fria,/Com um sorriso zombador, /Por sobre a areia corria,/Corria levando a flor./Ai, balanços do meu galho,/"Balanços do berço meu;/"Ai, claras gotas de orvalho/Caídas do azul do céu!.../Chorava a flor e gemia,/Branca , branca de terror,/E a fonte , sonora e fria/ Rolava levando a flor./"Adeus, sombra das ramadas,/Cantigas do rouxinol;/"Ai, festa das madrugadas,/"Doçuras do pôr do sol"./ Carícia das brisas leves/"Que abrem rasgões de luar.../Fonte , fonte , não me leves,/"Não me leves,/"Não me leves para o mar!.../As correntezas da vida/E os restos do meu amor/Resvalam numa descida/Como a da fonte e da flor".
Poesia de Vicente de Carvalho ( 1866 - 1924 ) , advogado, jornalista, político, magistrado, poeta e contista , nascido em Santos , SP. Pertenceu à Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira 29.
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