sexta-feira, 7 de junho de 2019

Libertinagem - Manuel Bandeira
" Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. 
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse , tosse , tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor , não é possível tentar o pneumotórax ?
- Não, a única coisa a fazer é tocar um tango argentino "
Poema "Pneumotórax " da autoria do pernambucano Manuel Bandeira ( 1886 - 1968 ) que integra o livro " Libertinagem " do ano de 1930, onde de braços dados desfilam a auto - ironia , o humor negro e o antiformalismo. O tom pessimista do poema é desfeito pela ironia do exame médico. Cabe lembrar que a tuberculose - a peste branca - na época consumia muitas vidas , posto que , não existiam os milagrosos antibióticos de Fleming. Em 1904 , aos 18 anos de idade, Manuel Bandeira foi diagnosticado com tuberculose pulmonar.
Grandes perigos continuam a ameaçar nossa sofrida América Latina: a fome , as carências alimentares , as infecções e as doenças genéticas. Esse grave quadro faz - se político e econômico, antes de ser médico. Em primeiro plano a medicina de hoje deve colocar o respeito pela pessoa como um dever fundamental. Trata- se de confirmar a individualidade do homem como um ser único e insubstituível.
O ensino médico deve aliar sempre uma boa formação científica com o Humanismo e a Filosofia , fazendo renascer as relações amistosas entre o ser que padece com o verdadeiro cuidador de almas. Unir esforço sincero e compromisso afetivo torna - se uma verdadeira imposição .

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