sábado, 7 de novembro de 2015

UMA LÁGRIMA SENTIDA POR UMA TRAGÉDIA HUMANA

O fim de ano já anda batendo de leve em meu ombro com o seu bafio morno. Retiro de minha surrada mochila às costas:  “ pedaladas “, “ coxinhas “, “ zelites “, “ deslizamentos de terras “ , “ incompreensões “ e “ queixumes “ de um aziago 2015 .  Desejo no momento, somente, dois dedos de prosa ou poesia com um mago lusitano, enquanto apanho uma teimosa lágrima com o dorso da mão.
Segue “ Li hoje quase duas páginas“ , um poema de Fernando Pessoa ( 1888 – 1935 ) :
“ Li hoje quase duas páginas
Do livro dum poeta místico,
E ri como quem tem chorado muito.
Os poetas místicos são filósofos doentes,
E os filósofos são homens doidos.
Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem
E dizem que as pedras têm alma
E que os rios têm êxtases ao luar.
Mas flores, se sentissem, não eram flores,
Eram gente;
E se as pedras tivessem alma, eram coisas vivas, não
Eram pedras;
E se os rios tivessem êxtases ao luar,
Os rios seriam homens doentes.
É preciso não saber o que são flores e pedras e rios,
Para falar dos sentimentos deles.
Falar da alma das pedras, das flores, dos rios,
É falar de si próprio e dos seus falsos pensamentos.
Graças a Deus que as pedras são só pedras,
E que os rios não são senão rios,
E que as flores são apenas flores.
Por mim, escrevo a prosa dos meus versos
E fico contente,
Porque sei que compreendo a Natureza por fora;
E não a compreendo por dentro
Porque a Natureza não tem dentro;
Senão não era a Natureza “

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