ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO - UM ORGANIZADOR DO CAOS
Arthur Bispo do Rosário ( 1909 – 1989 ) , apareceu no mundo em 1909 no município de Juparatuba , no Estado de Sergipe , na região mais pobre do Brasil , o Nordeste : o mundo do cangaço , da seca periódica e berço de beatos e santeiros .
Há uma instigante ausência de dados sobre a infância de Arthur Bispo . Entre 1925 e 1933 encontram – se citações sobre o trabalho regular de Arthur junto a Marinha do Brasil na condição de marinheiro e pugilista . Há relatos que Arthur foi campeão de boxe na categoria de pesos leves da Marinha . Consta que seu desligamento fez –se por conta de indisposição com seus superiores hierárquicos . O mesmo aconteceu em outro emprego na Companhia Light , uma empresa de eletricidade , onde exercia a condição de borracheiro e lavador de bondes . Neste trabalho sofreu um acidente e teve parte de seu pé direito esmagado . O Dr. Humberto Leone , seu advogado trabalhista , posteriormente o acolheu em sua residência por um determinado período . Por esta época , provavelmente , deu- se o início da produção dos trabalhos de arte de Arthur Bispo .
Em 22 de dezembro de 1938 , aquele negro ,solteiro , sem parentes , num surto psicótico chegou ao Mosteiro de São Bento , onde na presença dos monges apresentou –se como um enviado de Deus , em uma comitiva de anjos , com fins de julgar os vivos e os mortos . Dali foi enviado para o Hospício Pedro II , na Praia Vermelha , o mesmo onde um outro negro genial , o escritor Lima Barreto ( 1881 – 1922 ) também fora confinado por conta de problemas com o uso imoderado de bebidas alcoólicas . Logo , Arthur foi transferido , para onde seria seu lar por cerca de 50 anos , a famigerada Colônia Juliano Moreira , sob o fatal diagnóstico de Esquizofrenia Paranóide . A prática psiquiátrica vigente constava de isolamento , contenção mecânica e farmacológica , assim como , sessões de eletrochoque . Relata – se que o próprio Arthur , ao pressentir o desencadear de um surto psicótico , solicitava que o colocassem na área do isolamento .
Arthur Bispo do Rosário não teve orientação didática nem conviveu com qualquer artista plástico que imprimisse alguma influência no seu alentado trabalho manual . A produção artística de Arthur parte de matérias diversas , restos de produtos de consumo , que em sua mente fragmentada e em suas mãos , ganham formas de estandartes , barcos , fardões , bordados , miniaturas de objetos e uma escrita anárquica com nomes de pessoas reais ou imaginárias . Assim se abriu um mundo variegado , sem dor , sem doença nem miséria , em miniatura , de tudo aquilo que seria apresentado a Deus no Dia do Juízo Final ( Seda , H .e Queiroz , M.V . , 1981 ) .
O “ Manto da Apresentação “ representa a obra mais significativa de Arthur Bispo do Carmo , um fardão com o nome de pessoas importantes para que não houvesse esquecimento por ocasião do Juízo Final . O original artista não permitia a transação comercial de qualquer de suas obras . Mesmo para exposições Arthur Bispo mostrava incomum resistência na cessão de seus trabalhos . Como norma nestas ocasiões “ recomendava juízo para suas obras ao se exporem para os outros “ .
Aquele que se dispusesse penetrar no labirinto do mundo de Arthur , na Colônia Juliano Moreira , teria de responder , de forma correta a uma simples indagação : “ De que cor você vê a minha aura ? “ . A partir de então ficavam franqueadas as portas do mundo delirante do artista . Quando perguntado se iria se transformar em Jesus Cristo , Arthur respondia resoluto : “ Não vou me transformar não , rapaz , você está falando com ele “ .
Arthur Bispo do Carmo partiu para um encontro com Deus no dia 5 de julho de 1989 , contando com 80 anos de idade , vitimado por um infarto do miocárdio , na Colônia Juliano Moreira . Arthur não seguiu para o Divino com o seu “ Manto da Apresentação “ , mas , certamente , na cabeça carregou consigo tudo o que planejara em vida para mostrar a todos naquele verdadeiro e perene paraíso .
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