domingo, 19 de abril de 2015

NEM ÍCARO NEM SÍSIFO E SIM  , JUANA



Escalar a íngreme e tortuosa montanha da vida até seu ápice escrutinando passo a passo todas as estações naquilo que a natureza e Deus nos proporcionam constitui tarefa afeita a todo ser humano  . Exige-se para isso árduo trabalho ( Mito de Sísifo ) e sabedoria ( Mito de Ícaro ) ,  não esquecendo que nem tanto a terra nem tanto ao céu .
Ícaro ,  filho de Dédalo , um famoso inventor grego , em certa ocasião  encontrava- se prisioneiro junto a seu pai . A fuga não podia  se concretizar nem pelo mar nem pela terra que eram dominadas pelo Rei Minos . Dédalo imaginou  , então , uma saída pelos ares juntando penas de pássaros e colando –as  com cera de abelhas . Instruiu severamente a seu filho  , Ícaro , para que não se aproximasse em demasia do sol pelo risco do calor derreter a cera que  lhe colava as asas . Era a velha sabedoria  mostrando  que nem  o sol e tampouco  a morte  devem ser  encarados  de  perto . No  entanto   , o voo baixo próximo a umidade do mar deveria ser evitado pois iria encharcar as penas e favorecer a uma queda inevitável . De novo a sabedoria evidenciando  que a segurança encontra-se no meio termo  . Ícaro soçobrou  ao sonhar alto demais e caiu no mar , enquanto Dédalo com prudência seguiu em frente .
Sísifo , um pastor de ovelhas era filho de Éolo , o deus dos ventos , sofreu uma severa punição do deus Zeus que o condenou a rolar montanha acima um pesado seixo de pedra , num inútil trabalho , posto que , lá  no alto chegando , exausto , não conseguia segurar a pedra que voltava até o fundo  da planície . A mesma sina todos os dias .
A vida não pode se reduzir a este simples absurdo como defendem  alguns existencialistas  .  O trabalho sendo um objeto ( tripalium ) de tortura medieval   e a certeza da morte removendo toda a beleza do caminhar nas muitas veredas a serem percorridas . Vale a pena  carregar estoicamente o fardo da vida ,  montanha acima enfrentando rigores e perigos ,  gozando mais no levantar  do que no cair . Uma vez chegando  no vértice da montanha , mesmo que o pesado seixo venha a rolar ladeira abaixo , seguir em frente , curtindo o ambiente arejado do momento a ser compartilhado  . Dali  , geralmente se saboreia a contento todas  as delícias mundanas .
E um dia  , enfim ,   dar início com cuidado e zelo  a descida obrigatória das escarpas da montanha da vida rumo a planície ao rés do chão , apoiado em  seu cajado e nas muitas vivências que o sofrimento e o gozo  lhes proporcionaram  . E  ter plena consciência  de um dia ser amorosamente acolhido ao seio da mãe – natureza  misturando –se à poeira das estrelas  e seguir ao definitivo encontro  gozoso com o Pai . Que assim  seja ! .
Acreditar que nosso mais precioso bem é a vida e por isso  vale a pena beber  os versos de uma bela poetisa uruguaia  , Juana de Ibarbourou :
“  Tome- me agora que ainda é cedo / e que levo dálias frescas nas mãos / tome- me  agora que ainda é sombria / esta taciturna cabeleira minha / agora que tenho a carne cheirosa / e os olhos limpos e a pele de rosa / agora que calça minha planta leve / a sandália viva da primavera /agora que meus lábios replicam a risada / como um sino sacudido às pressas / depois ... ah, eu  sei / que nada disso mais tarde terei ! / que então inútil será teu desejo / como oferenda posta sobre um mausoléu / Tome- me agora que ainda é cedo / e que tenho rica de nardos a mão ! / Hoje, e não mais tarde . Antes que anoiteça/ e se torne murcha a coroa fresca / hoje , e não amanhã . Oh, amante ! não vê que a trepadeira crescerá cipreste ? “ .

Nenhum comentário:

Postar um comentário