segunda-feira, 13 de abril de 2015

NAIR DE  TEFFÉ , A CARICATURA DE UMA BELA PRIMEIRA -  DAMA 

Nair de Teffé ( 1886 – 1981 ) , caricaturista , musicista , atriz e primeira – dama da república , nascida no dia 10 de junho de 1886 em Petrópolis no Rio de Janeiro .  Seus pais foram Antônio Luiz  von  Hoonholtz e Joana Cristina von Hoonholtz , barões de Teffé . Nair recebeu  uma educação primorosa e tornou-se uma bela mulher  , culta , elegante , ousada , sensível e vanguardista . Por conta do trabalho de seu pai como ministro plenipotenciário do Brasil a garota teve a oportunidade de viajar e estudar em  países  da Europa , como em  França onde foi interna num colégio de freiras . Por esta ocasião surgiram os primeiros trabalhos de caricatura elaborados  por  Nair . Logo mais  , figuras da política e da sociedade em geral serviram aos traços da novel e rara caricaturista  . Rara porque tal atividade até então era primordialmente exercida por homens  .  Em Paris ,  Nair de Teffé  teve o privilégio de usufruir do esplendor da belle époque onde não faltaram   perfis para o seu trabalho de  pintura num mundo novo e  rico  em ebulição  alucinante .
De volta ao Brasil principiou  a sua  colaboração nos  periódicos cariocas como O Malho  , A Careta , Fon- Fon e outros . Passou a assinar seus trabalhos  com o nome de  Rian , um anagrama de Nair , ou , “ nada “  ,  em francês . Em andanças com os seus pais  por Petrópolis no ano de  1913  o destino conspirou para que a jovem e bela  Nair cruzasse seus virginais caminhos com o do  viúvo e Presidente da República do Brasil , Marechal Hermes da Fonseca ( 1855 – 1923 ) . Do flerte maneiro ao noivado e casamento foi um salto preciso ( 6 meses )   . Nair contava então  com 27 anos e Hermes ,um carrancudo pai de família  com  58 anos de idade e viúvo há cerca  de 1 ano,   de Orsina Francione da  Fonseca ( 1858 – 1912 ) . O casamento de Hermes com Nair deu-se no dia 08 de dezembro de 1913  em Petrópolis , no Palácio Rio Negro , sob as bênçãos do Arcebispo Arcoverde e sem a presença dos muitos filhos do marechal Hermes .  Os atributos da mulher casadoira  à época , como não trabalhar fora , não tocar violão , não beber nem fumar e disposição para parir um filho por ano , não pertenciam ao perfil da bela  e sonhadora Nair .
“ Você , botão de rosa / amanhã é flor – mulher / joia perfumada cada um deseja e quer / de manhã  banhada ao sol / vem o mar beijar /lua enciumada noite alta vai olhar / você menina – moça mais menina que mulher / confissões não ouça / abra os olhos  se puder / tudo tem seu tempo certo / tempo para amar / coração aberto faz chorar / a lua , o céu , a praia , o luar / missão de Deus / a vida eterna  para amar /” .
No Palácio do Catete  , a primeira –dama Nair patrocinou inúmeros saraus introduzindo ritmos ( maxixe )  e instrumentos populares  ( violões ) naqueles nobres ambientes .  Assim se deu com o compositor maranhense  Catulo da Paixão Cearense ( 1863 – 1946 )  e Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935 )   , onde um maxixe  , o “ Corta – Jaca “ , feito sob medida pela maestrina  ,  foi devidamente executado ao violão de Nair de Teffé , para gaudio e espanto da sisuda plateia .
“  Neste mundo de misérias / quem impera / é quem é mais  folgazão / é quem sabe cortar jaca / nos requebros / de suprema perfeição / ai , ai , como é bom dançar , ai / corta – jaca assim , assim / mexe com o pé / ai , ai , tem feitiço tem , ai / corta , meu benzinho , assim ,assim / esta dança é buliçosa / tão dengosa / que todos querem dançar / não há ricas baronesas / nem marquesas / que não saibam requebrar , requebrar / este passo tem feitiço / tal ouriço / faz qualquer homem coió / não há velho carrancudo / nem sisudo / que não caia em trololó , trololó / quem me vir assim alegre q no Flamengo / por certo se há de render / não resiste  com certeza / com certeza / este jeito de mexer / um flamengo tão gostoso / tão ruidoso / vale bem meia- pataca /dizem todos que na ponta / está na ponta /nossa dança corta- jaca , corta- jaca “ .       Corta – Jaca de Chiquinha  Gonzaga .
O grande e paparicado baiano civilista  Rui Barbosa ( 1849 – 1923 )   , que perdera a eleição para a presidência da república justamente para o insigne marido de Nair registrou uma destemperada nota  no diário do Congresso Nacional sobre o rega – bofe do palácio : “ Uma das folhas de ontem estampou em fac- símile o programa da recepção presidencial  em que diante do corpo diplomático , da mais fina sociedade do Rio de Janeiro , aqueles que deviam dar ao país o exemplo das  maneiras  mais distintas  e dos costumes mais reservados elevaram o corta- jaca à altura de uma instituição social . Mas o Corta – Jaca de que eu ouvira falar há muito tempo , que vem a ser ele , Sr. Presidente ?  . A  mais baixa , a mais chula , a mais grosseira de todas as danças selvagens , a irmã gêmea do batuque , do cateretê e do samba .  Mas nas recepções presidenciais o Corta – Jaca é executado com todas as honras da música de Wagner , e não se quer que a consciência deste país se revolte , que as nossas faces se enrubesçam e que a mocidade se ria ? “ .
Uma resposta à altura da mimosa primeira dama  Nair de Teffé  :
“ ...Rui Barbosa aproveitou o lançamento do “ Corta – Jaca “ para inserir nos anais do Senado a sua costumeira verborragia , babando contra mim a sua orgulhosa catilinária de insopitável ódio ao governo . As pedras que ele me atirou não me atingiram . Elas só serviram para assinalar a luta que enfrentei contra os preconceitos de então “ . Ponto para  Nair .
Nair  iria sofrer um sério acidente  de trânsito logo após o término do mandato do seu esposo Hermes e teve que recorrer a um severo e prolongado  tratamento médico no  exterior .  De volta ao Brasil em 1920 seguiu com a vida em frente  ,  ficando viúva do marechal em janeiro de 1923  , aos 37 anos de idade . Fundou a Academia Petropolitana de Letras  em 1929 . Em 1932 inaugurou  o Cinema Rian na Avenida Atlântida  em Copacabana .
Nair de Teffé   não teve filhos biológicos e permaneceu na viuvez até o fim de seus dias  .  Após breve período de apatia em consequência de renitente quadro  depressivo , posto que , sofreu  também a perda do seus queridos  pais , Nair toma novamente com coragem as rédeas do destino e segue com seu trabalho de caricaturista . Acolhe  em adoção  três crianças  usufruindo desta sublime forma de repartir um  amor genuíno e puro .  Na década de 70 a Receita Federal chamou Nair para explicar  o não – pagamento  devido ao  Imposto de Renda . Ela preencheu o formulário de resposta apenas com a caricatura do famigerado Ministro da Fazenda  , de então ,  Delfim Netto  . O  militar- presidente Emilio Garrastazu Médici ( 1969 – 1974 ) concedeu em 1970  uma pensão vitalícia para Nair como viúva do ex- presidente Hermes da Fonseca amenizando em muito sua precária condição financeira .   Viveu Nair   modestamente , mas com perseverança  , ousadia e riqueza de caráter de uma extraordinária  mulher moderna  , falecendo aos  95  anos de idade no dia 10 de junho de 1981 , quando aniversariava  .

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