Taiguara
Taiguara Chalar da Silva ( 1945 - 1996 ) , nasceu em Montevidéu , no Uruguai, por acaso , tendo como pais , Ubirajara - um bandoneonista e maestro , e Olga - cantora . Aos 4 anos de idade , Taigura passou a residir no Rio de Janeiro , e aos 10 anos , começou a compor inocentes músicas ao piano . Na década de 60 iniciou um Curso de Direito no Instituto Mackenzie, que não concluiu , para se dedicar de corpo e alma à música . Araguari Chalar da Silva , seu irmão, graduou - se em Psicologia , e faleceu precocemente , em virtude de um câncer de intestino .
Taiguara deu o ponta - pé na carreira artística cantando na noite , em um logradouro de sugestivo nome : " João Sebastião Bar " , e depois num espetáculo chamado : Mens Sana In Corpore Samba " , na companhia de Toquinho e Chico Buarque , todos comportados estudantes universitários. Taiguara despontou para o sucesso com os famigerados festivais de Música Popular Brasileira . Uma febre canora, contudo , fértil e passageira . Assim surgiu , " Modinha " , de autoria de Sérgio Bittencourt, filho de Jacob do Bandolim :
" Olho a rosa na janela / sonho um sonho pequenino / se eu pudesse ser menino / eu roubava essa rosa /e ofertava , todo prosa / à primeira namorada/ e nesse pouco ou quase nada / eu dizia o meu amor / o meu amor / olho o sol findando lento / sonho um sonho de adulto / minha voz na voz do vento / indo em busca do teu vulto / e o meu verso em pedaços / só querendo o teu perdão / eu me perco nos teus passos / e me encontro na canção / ai , amor , eu vou morrer/ buscando o teu amor / eu vou morrer de muito amor " .
Depois , Taiguara , aí sim , abriu o peito com uma canção de sua lavra :
" Eu desisto / não existe essa manhã que eu perseguia / um lugar que me dê trégua ou me sorria / e uma gente que não viva só pra si / só encontro gente amarga mergulhada no passado / procurando repartir seu mundo errado / nessa vida sem amor que eu aprendi / por uns velhos vãos motivos / somos cegos e cativos / no deserto do universo sem amor / e é por isso que eu preciso / de você como eu preciso / não me deixe um só minuto sem amor / vem comigo / meu pedaço de universo é no teu corpo / eu te abraço imerso no teu corpo / e teus braços se unem em versos à canção / vem que eu digo / que estou morto pra esse triste mundo antigo / que meu porto , meu destino , meu abrigo / são o teu corpo amante amigo em minhas mãos " .
Ao longo da estrada , Taiguara quis mudar os versos desta canção para : " Eu insisto / existe essa manhã que eu perseguia " . Infelizmente , não vingou !
Versátil, Taiguara navegava por vários gêneros musicais , e sempre bem sintonizado com elaboradas letras poéticas . Com a repressão artística imposta pelos militares , Taiguara partiu para o exílio na Inglaterra , França , Tanzânia e Etiópia . Ao voltar , desfocado , em 1978 , com o fim do AI - 5 , ao Brasil , aprofundou - se em pesquisas de sonoridades africanas e paraguaias , e , assim , afastou - se daquele seu público cativo das épocas dos festivais . Em suas apresentações, agora , eram intercaladas as músicas com acalorados discursos comunistas enaltecendo a ilha de Cuba com Fidel Castro , e com o capitão Luiz Carlos Prestes , o famigerado Cavaleiro da Esperança .
Tudo junto , Ave Maria !
Os sucessos minguavam, enquanto as retóricas, fora do tempo , incomodavam ou não eram entendidas pelo público . E as gravadoras bateram asas , como sempre , preferindo gêneros de fácil vendagem , como música sertaneja, pagode , rock e fossa .
Certo feita , a nossa loira desposada do sol , acolheu o menestrel inconformista , com o seu coração mendigo de amor , nas Dunas balouçantes da Praia do Futuro, onde Taiguara rabiscou , como um Padre Anchieta moderno , em suas areias , uns mimosas versos para sua musa dita " Maria do Futuro " :
" Duna branca , lua mansa , Maria deita / nua e branda como as nuvens que a lua enleita / duas tranças, uma flor e Maria enfeita / suas mansas curvas cheias que a areia aceita / era noite de verão/ vi o amor nascer num sorriso seu / o luar me convidou / o mar nos temperou e ela me envolveu / nessa rede ela prendeu / minha doce vil, minha solidão/ nessa rede vi nascer minha liberdade / tua rede , minha sede / e o amor te trouxe/ quero ver o mar salgando teu seio doce / e em cadeias de amor puro / viver guardado/ joga areias do Futuro no meu passado " .
No dia 14 de fevereiro de 1996 , calou - se o pranto pungente de Taiguara , aos 50 anos , em decorrência de um câncer de bexiga , na cidade dd São Paulo .
Ponto Final !
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