A Vida : O Mais Belo dos Poemas
A vida é o mais belo dos poemas , a vida que lemos enquanto a compomos ; poema em que se ligam e ajudam mutuamente a inspiração e a consciência , a vida que conhecemos como microcosmo e que representa perante Deus a repetição em miniatura do poema universal e divino . Sim , sê homem, quer dizer, , sê natureza , sê espírito, sê imagem de Deus, sê o que há de maior , de mais formoso , mais elevado em todas as esferas do ser ; sê uma ideia e uma vontade infinita , uma reprodução do grande Todo . E sê tudo não sendo nada , suprimindo - te , deixando entrar a Deus em ti como o ar num espaço vazio , reduzindo teu eu egoísta ao contingente da essência divina . Sê humilde, recolhido e silencioso para ouvir , no fundo de ti mesmo, a voz sutil e profunda ; sê espiritual e puro para entrar em comunhão com o espírito puro . Retira - te amiúde, ao último santuário de tua íntima consciência , penetra em tua pontualidade de átomo para libertar - te do espaço, do tempo , da matéria , das tentações , da dispersão, para escapar de seus próprios órgãos e de tua própria vida , quer dizer , morre com frequência e interroga - te diante dessa morte , como preparação para a morte final .
Crer num Deus bom , paternal , educador , que regula a força do vento à ovelha tosada , que só por necessidade castiga , e que priva com pesar : este pensamento, ou melhor , esta convicção dá coragem e segurança .
Oh ! Quão necessitados estamos de amor , de ternura , de afeição, de bondade, e quão vulneráveis somos , nós, filhos de Deus , nós, imortais e soberanos !
Fortes como o mundo ou fracos como o verme , conforme , se representamos Deus ou apenas a nós mesmos, se apoiamos no ser ou estamos sós .
Obrigado, repouso ; obrigado, solidão; obrigado, Providência ! Pude penetrar em mim , pude dar audiência ao meu bom anjo . Retemperei - me no sentimento de minha vocação, de meu dever , na recordação de minha fraqueza . Vamos , ano novo, traz o que quiseres , Mas não me arrebates a paz , deixa - me a claridade da consciência em Deus !
Senhor, comunica tua força aos fracos de boa vontade !
Excertos do livro " Diário Íntimo " da autoria de Henri - Frédéric Amiel ( 1821 - 1881 ) , poeta , crítico literário, professor de estética e filosofia em Genebra .
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