Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção
" Ao longe , em brancas praias , embalada
Pelas ondas azuis dos verdes mares , Fortaleza - a Loura Desposada
Do Sol - dormita à sombra dos palmares .
Como uma hóstia de luz cristalizada
Entre verbenas e jardins pousada
Na brancura de místicos altares .
Lá canta em cada ramo um passarinho ...
Há pipilos de amor em cada ninho ,
Na solidão dos vastos matagais .
É minha terra , a terra de Iracema ,
O decantado e esplêndido poema ,
De alegrias e beleza universais !
Poema " Fortaleza " , de autoria de Francisco de Paula Ney , nascido em Aracati - Ceará no dia 2 de fevereiro de 1858 , e falecido a 13 de outubro de 1897 , aos 39 anos de idade , no Rio de Janeiro . Foi um espírito boêmio, inteligente e altivo . Privava da amizade de grandes figuras das letras brasileiras, tendo Artur Azevedo dedicado um soneto à sua memória, destacando o seu " talento de ouro " e o " inflamado verbo , altíssimo e vibrante " . Os seus versos sobre Fortaleza ficaram nacionalmente conhecidos . Escreveram sobre ele , dentre muitos , Olavo Bilac , Coelho Neto , e Barão de Studart .
Paula Ney não deixou obra publicada .
Canto de Amor a Fortaleza
Não tens Capibaribes ao Luar .
Não tens ilhas defronte .
Não tens pontes .
Não tens ventos terríveis , minuanos .
Não tens brumas , montanhas , nem fortins.
És pobre , Cidade .
Mas És bela .
Tens mistérios e muita adolescência .
Se contemplo o teu vulto penso em rosas .
Tenho pétalas em mim se te murmuro .
Quanto És mansa , e bucólica, e pura ;
E bela , e jovem , ó grande flor atlântica
Plantada mais em nós do que no chão !
Cidade das velhas serenatas
Das doces pastorinhas e fandangos
Das retretas românticas , das valsas ,
De usanças que o tempo já não traz .
Quem foi que sepultou teus violões,
Tuas cirandas, modinhas e quermesses ,
Tuas festas de Reis , tuas lanternas ,
Teus sobrados , serões e bandolins ?
Quanto sofro por ti , pois te desnudam
E te tornam uma girl made in USA
E já não ouves os sinos que te chamam
Para Nossa Senhora da Assunção .
Cidade das lagoas circundantes
E dos becos solitários e cruéis !
Lagoa de Mondubim
Lagoa da Pirocaia
Lagoa da Maraponga
Lagoa da Onça
Lagoa Feia
Lagoa do Tauape !
Na Praça do Ferreira - desvairada -
Teu coração se encontra palpitando
E sofre as tuas dores e retém
A memória gentil de tua infância .
Cidade essencial
Cidade marítima
Eu sempre te amei .
Tenho versos que um dia cantarei
Às tuas praias amplas , ao teu mar
Onde pousam jangadas e canções .
Praia de Iracema
Praia do Mucuripe
Praia do Meireles
Volta da Jurema
Praia Formosa
Praia do Futuro
Praia de Pirambu !
Oh ! Os teus bairros tão doces e tranquilos
Que recordam as canções dos seresteiros .
Aldeota, Benfica , Alagadiço,
Piedade , Prainha , Navegantes ,
Jacarecanga , Porangabuçu !
Cidade de meus filhos , minhas lutas ,
Meus exílios , desejos , solidões .
Cidade onde é possível o amor de outrora
Chegar ao nosso olhar , claro e esquivo,
E em nós ser como foi nos velhos tempos .
Poema " Canto de Amor a Fortaleza " , de Artur Eduardo Benevides , nascido em Pacatuba - Ceará, no dia 25 de julho de 1923 , e falecido em 22 de setembro de 2014 , aos 91 anos de idade . Bacharelou - se pela Faculdade de Direito da Universidade Fedrral do Ceará . Professor de Literatura Brasileira na Faculdade de Filosofia , Ciências e Letras do Ceará . Membro da Academia Cearense de Letras . Príncipe dos Poetas Cearenses.
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