"O Ferreiro da Maldição"
" O Ceará é o ferreiro maldito, de quem fala a lenda popular: quando tem ferro falta carvão. É nadador contra a corrente , que nunca chega; o caranguejo que anda e desanda; o eco a repetir a pergunta sem resposta ; o nó sem ponta; o sonho que promete em sombras que não se distinguem bem , a vaga esperança, enfim, para a qual nunca chega o dia.
Há cem anos, um povo gigante , a mover - se, não adianta um passo , como frágil esquife sobre as ondas, que a corrente impele , e o vento faz recuar. Não lhe falta a alma. São os deuses, que o condenam à pena de Tântalo - morrer de sede à beira do regato. Os diretores mentais do Ceará morreram ou foram longe procurar um teatro para exibição de sua intelectualidade; e crestam na penúria os rebentos da capacidade cearense, a disputarem um pouco de ar , que aliás lhe mata o estímulo; o ar mefítico das baixas regiões oficiais...
Que seja para os netos de nossos netos , não importa. O mundo não é tão curto , que acabe em nós; e cem anos, na ordem dos tempos, é muito menos de um til nos lábios " .
Crônica " O Ferreiro da Maldição " , da lavra do cronista , historiador e político - macho, João Brigido ( 1829 - 1921 ) , que apareceu no Jornal " O Unitário " , com a data de 20 de maio de 1903.
Nos dias hodiernos , corridos 117 anos da tal crônica, o perfil político do Ceará, pouco se alterou , e para pior , culpa de seus diretores mentais , lembrando a cantiga da perua. ( É de pior a pior/ é de pior a pior /a cantiga da perua é uma só).
Hoje , 26 de fevereiro de 2021 , uma comitiva da Presidência da República, visita o " Novo Ceará " , que os netos de nossos netos , poderão curtir melhor , caso os ventos da racionalidade mudem. A crônica " O Ferreiro da Maldição " , continua atualizada , sem tirar nem por uma vírgula sequer .
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